Revista da EMERJ - V. 22 - N.1 - Janeiro/Março - 2020

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 220 - 248, Janeiro-Março. 2020  229 Como se pode ver, com a Era Marcola, o Primeiro Coman- do da Capital se profissionalizou, se especializou, a fim de viabi- lizar a própria expansão e o intercâmbio da Sintonia Fina Geral e da liderança com as lideranças estaduais e, por conseguinte, obter uma unidade e uma única visão empresarial estruturada e organizada para a facção 10 . Quando tudo estava em prática e em pleno funcionamento, já havia estofo para a guinada que Marcola pretendia: o fatura- mento real e elevado, não mais fruto das atividades criminosas e da manutenção do Partido pelas mensalidades, era hora de se pensar de forma macro e transnacionalizada. Assim, o Primeiro Comando da Capital ingressaria no mundo das drogas, sua co- mercialização, produção e exportação. Após chegar à liderança da facção e com a instituição das sintonias, o próximo passo era expandir os negócios da organização criminosa, e com isso, os contatos de Marcola se mostraram essenciais para o ingresso efetivo do Primeiro Comando da Capital no comércio internacional de drogas. E é importante esclarecer que o Primeiro Comando da Capital sempre fez negócios com drogas, desde sua origem. Era uma das suas fontes de renda, mas o mérito, se é que podemos dizer assim, de Marcola foi pensar de maneira macro, isto é, não se limitar aos lucros advindos das bocas de fumo e dos pequenos traficantes, mas sim, eliminar os intermediários e buscar as drogas diretamente dos produtores, como fez o Comando Vermelho, de Fernandinho Beira-Mar, na Colômbia. Houve, portanto, uma aproximação do Cartel da droga da Bolívia com o PCC. Afinal, havia uma comunhão de interesses. Para os bolivianos era vital escoar o produto visto que a Bolívia 10 Se analisarmos os perfis dos grandes grupos terroristas internacionais ou de grandes partidos políticos de esquerda, principalmente da Europa Oriental na época da Guerra Fria, vamos ver sempre a existência de um comitê central do partido como centro do poder decisório. O PCC clonou esse modelo ao criar a Sin- tonia Geral Final, com um líder que devia responsabilidade aos demais. Camacho era esse líder da Sintonia Final, e de certa forma essa configuração funcionava como um anteparo, pois as ações contra o PCC, para chegar até ele, tinham que passar pelos demais membros do comitê central. Dessa maneira, o PCC se remodelou. Usando departamentos, como uma empresa, para gerir o negócio, com certa consistência e noção administrativa. Houve um planejamento e depois uma adaptação. CHRIS- TINO, Marcio Sergio e TOGNOLLI, Claudio. Laços de Sangue: a história secreta do PCC . 3 ed. São Paulo: Matrix, 2017, p. 118 e 119.

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