Revista da EMERJ - V. 22 - N.1 - Janeiro/Março - 2020
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 220 - 248, Janeiro-Março. 2020 223 Em contrapartida, caminha o Estado, despreparado, deses- truturado para controlar um país continental e com uma popula- ção carcerária que somente aumenta e está entre as três maiores do mundo com mais de setecentos mil presos. Será que o Go- verno Federal possui uma política externa eficiente que consiga combater o crime organizado e estar, concomitantemente, em consonância com os ditames internacionais do combate ao crime organizado? Eis o que passaremos a analisar. 2. O PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL – PCC – DO SURGI- MENTO ÀS SINTONIAS FINAS E AO MERCADO DA DROGA O surgimento da facção criminosa que viria a dominar os presídios, em especial, no Estado de São Paulo, se deve às falhas do Estado Democrático de Direito Brasileiro, que se mostrava, já naquela época, muito despreparado para lidar com a questão prisional. Importante destacar que, em 1992, São Paulo foi vítima da maior chacina de sua história, o que ficou conhecido como o “massacre do Carandiru”. O que se viu em 14 de outubro de 1992 foi um ataque brutal: em meia hora de terror, policiais armados com escopetas, metralhadoras, revólveres e facas acuaram os detentos e deixaram um rastro de 111 mortes, com abundantes sinais de execução, corroborados pelo testemunho de sobreviventes 1 . O relato abaixo, extraído de uma das mais importantes revistas de circulação da época, demonstra a truculência com que o Estado lidou com a rebelião e também a ferocidade dos próprios detentos: Eram 4 horas da tarde. Começam os trinta minutos de- cisivos, a meia hora de horror. Há pouca luz e muita fu- maça no corredor de pouco mais de 2 metros de largura. A PM tem lanternas. Os presos correm entre as celas. Xingam os policiais. “Aqui é o choque”, anunciam os soldados no 2º pavimento. ‘Chegou a morte”, gritam, 1 Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/reveja/carandiru-1992-8220-aqui-e-o-choque-chegou-a-mor- te-8221/. Acesso em 27 de fevereiro de 2019.
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