Revista da EMERJ - V. 21 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2019 - Tomo 2
343 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 2, p. 339-343, set.-dez., 2019 TOMO 2 do ex-chefe de Estado, no qual ataca Prudente de Moraes, presidente em exercício. Isso o coloca novamente no alvo de ofensas inflamadas. Luís Murat, poeta muito ligado a Bilac, publica, no fim de outubro daquele ano, no jornal “ O Commércio de São Paulo”, artigo intitulado “Um Louco no Cemitério”. Segundo o texto: “Ora, já vê o Sr. Dr. Raul Pompeia, que essas bravatas demagógicas não lhe ficam bem”. Raul Pompeia não suporta as críticas. No dia de Natal de 1895, o autor se suicida com um tiro no coração. Deixou uma nota: “Ao jornal A Notícia , e ao Brasil, declaro que sou um homem de honra”. Faltou-lhe seguir a recomendação do pai em “O Ateneu”: “Coragem para a luta”. Bilac, por sua vez, viveu por muitos anos após o duelo com Pom- peia. Escreveu, depois do incidente, crônicas e poemas, entre eles o famo- so “Caçador de Esmeraldas”, de 1902, em versos alexandrinos clássicos, joia do movimento literário parnasiano. Muito popular, Bilac, ainda em vida, foi alcunhado de “príncipe dos poetas brasileiros”. Teve tempo, tam- bém, de se dedicar à campanha do serviço militar obrigatório. O episódio permite algumas reflexões. O primeiro é o de que, assim como os brutos também amam, os poetas podem odiar. A profunda sen- sibilidade por vezes convive, no mesmo ser humano, com a intransigência. Depois, somos obrigados a reconhecer que os conhecimentos jurí- dicos – de que dispunham tanto Bilac como Pompeia – não os impediram de cometer uma ilegalidade (participar de um duelo), nem os levaram a decidir suas diferenças de forma civilizada, num debate franco, ao invés de partir para a violência. Por fim, há, no caso, uma atuação peculiar dos militares (as duas testemunhas): por um lado, participaram de um ato ilegal, pois o duelo se tornara crime; porém, por outro, foram esses “homens das armas” que convenceram os “homens das letras” a desistir do combate físico. Bem vistas as coisas, não fosse a mediação do segundo-tenente e do comandante, o Brasil possivelmente perderia, de forma prematura, um ou mesmo dois de seus maiores talentos literários, que, exaltados, viveram, como no verso de Bilac, “na extrema curva do caminho extremo”.
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