Revista da EMERJ - V. 21 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2019 - Tomo 2

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 2, p. 339-343, set.-dez., 2019  342 TOMO 2 o solteirão Bilac tinha um caso com seu sobrinho. Quanto talento desper- diçado em baixarias! Dias depois, Bilac e Pompeia se encontram casualmente na Rua do Ouvidor, no centro do Rio. Partem para as vias de fato. Socos e pontapés. Insultos de parte a parte. São apartados. A troca de tapas não se mostra suficiente para acalmar os ânimos. “Só a sangue isso pode acabar”, teria ameaçado Pompeia. Este, então, convoca Bilac a participar de um duelo de espadas, que ocorreria no atelier do escultor Rodolpho Bernardelli. Dois anos antes desse episódio, Deodoro havia, por meio do De- creto nº 847, de 11 de outubro de 1890, alterado o Código Penal, para nele incluir como crime participar e, até mesmo, desafiar alguém para um duelo. Até pouco tempo, o duelo era considerado a forma elegante de proteger a honra. Apesar da proscrição do duelo, os dois literatos compa- receram no dia marcado para o embate. Cada um deles leva sua testemunha. Bilac vai acompanhado do de- putado cearense (e segundo-tenente) Jesuíno de Albuquerque, enquanto Pompeia chega com o comandante do exército Francisco de Matos. Já com as espadas nas mãos – embora nenhum deles soubesse bem manejá-las –, prontos para iniciar a luta, as testemunhas escolhidas con- citaram os dois talentosos homens das letras a desistir da contenda. Ar- gumentaram que ambos já haviam provado sua coragem e resguardado suas honras pelo simples fato de terem comparecido ao duelo. Nada mais era necessário. Felizmente, as razões dos mediadores convenceram Bilac e Pompeia. Talvez, argumentos racionais, mesmo num momento tenso, tenham feito sentido para dois homens sensíveis e inteligentes, que, ademais, haviam es- tudado direito. Bilac, que iniciou o conflito, apresentou um tímido pedido de retratação (tudo leva a crer que encaminhou seu pleito com a sutileza de um poeta). Segue-se um constrangido aperto de mãos. Salvam-se os dois. No ano seguinte, 1893, Olavo Bilac é perseguido pelo governo de Floriano. Foge, vivendo um breve período na clandestinidade. Depois, entrega-se e fica, por um curto tempo, preso na Fortaleza da Lage, no Rio de Janeiro. Com a morte de Floriano, em 1895, Pompeia é demitido da Bi- blioteca Nacional. Profere, entretanto, um discurso elogioso no enterro

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