Revista da EMERJ - V. 21 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2019 - Tomo 2
341 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 2, p. 339-343, set.-dez., 2019 TOMO 2 do paixões violentas e posições radicais. Como torcedores de agremiações de futebol, apoiadores de Deodoro, de um lado, e de Floriano, de outro, se atacavam asperamente. Pompeia, embora criado no Rio de Janeiro, estudara direito em São Paulo e conclui seu curso em Recife, cuja faculdade frequentou a partir do terceiro ano. Mesmo formado, jamais praticou a advocacia. Em 1888, pouco antes da acusação de Bilac, Pompeia apresenta “O Ateneu”, sua mais importante obra. Trata-se de um romance psicológico que narra, na primeira pessoa, as experiências do protagonista, ainda criança, nos seus anos de colégio interno. O livro possui um subtítulo: “Crônicas de uma Saudade”. Um romance de reminiscências, profundo, de enorme densidade psicológica. Um menino, no livro de Pompeia, é “entregue” por seu pai a um internato, rompendo a sua vida familiar de forma abrup- ta e violenta. “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta”. O livro também funciona como uma crítica às instituições do de- cadente império brasileiro, que o autor apresenta na forma de uma escola tradicional e ultrapassada (ao fim, consumida pelo fogo). A obra termina carregada de melancolia: “Aqui suspendo a crônica das saudades. Sauda- des verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo – o funeral para sempre das horas”. Na sua denúncia a Raul Pompeia, Bilac, o mesmo homem capaz de ouvir e entender as estrelas, afirma, depois de acusar o literato de servilis- mo e bajulação, que a defesa do autor de “O Ateneu” a Floriano Peixoto apenas se poderia explicar por alguma espécie de “amolecimento cerebral, pois que Raul Pompeia masturba-se e gosta de, altas horas da noite, numa cama fresca, à meia-luz de veilleuse mortiça, recordar, amoroso e sensual, todas as beldades que viu durante o dia.” A imputação cai como uma bom- ba na cabeça complexa de Pompeia, que, sabidamente, tinha dificuldades de relacionamento com mulheres. Pompeia revidou. Publica uma resposta no “Jornal do Commer- cio”. Segundo ele, “O ataque foi bem digno de uns tipos, alheados do res- peito humano, licenciados, marcados, sagrados – para tudo – pelo estigma preliminar do incesto”, alfinetou o escritor. Pompeia chega a sugerir que
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