Revista da EMERJ - V. 21 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2019 - Tomo 2

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 2, p. 494-555, set.-dez., 2019  500 TOMO 2 tais funções, buscando prover bens e serviços particulares ou produzir resultados específicos, redundaria, via de regra, falta de coordenação, ante a “desastrada” interferência governamental no sistema de preços. Segun- do os libertários, o sistema de preços contém uma gama de informações acerca dos desejos, necessidades, e valores atribuídos pelas pessoas aos bens produzidos numa economia complexa que nenhum cérebro humano é capaz de manipular. Caso o governo interfira nesse sistema, instituindo, por exemplo, controle de preços, programas de preservação ou de geração de empregos, etc., atribuiria a tais bens um valor artificial, diverso daquele que lhes é atribuído espontaneamente pelos atores do mercado, causando diversas mazelas, v.g.: excesso ou escassez de bens, manutenção de ofícios que foram superados pelo desenvolvimento tecnológico ou econômico, benefícios odiosos àqueles que desempenham a atividade subsidiada, etc. Note-se, ainda, que tais instrumentos de intervenção governamen- tal na economia assemelham-se a um truque de mágica: o político que propõe um novo tributo, subsídio, ou programa de transferência de renda quer que os eleitores prestem atenção em sua mão direita, na qual ele des- taca o benefício gerado pela medida sugerida (a geração de empregos com a construção de um estádio, a manutenção das atividades de uma empresa tradicional, as pessoas agraciadas com o “benefício social”, etc.). Todavia, a falácia consiste na sua pretensão de encobrir sob a mão esquerda os custos da medida, ou, mais precisamente, a riqueza e os empregos que se- riam criados caso os recursos empregados pelo governo fossem utilizados pelos seus titulares. 10 Assim, um mercado livre surge como uma “ordem espontânea” que, através da sua “mão invisível”, logra coordenar as escolhas e prefe- rências de milhões de produtores, intermediários, investidores e consumi- dores, de modo que o indivíduo, embora não possa adquirir todos os bens que deseja, tem a possibilidade de utilizar o seu dinheiro e de escolher a sua atividade profissional ou negócio da forma que melhor lhe aprouver (seja a mais rentável, seja a que lhe confira maior satisfação pessoal), e não guiado pelas preferências fixadas, de cima para baixo, por uma autoridade central. Ademais, as pesadas taxação e regulação da economia desestimu- lam a produção de riqueza, estimando-se, p. ex., que, caso não houvesse o forte avanço dessas providências nos EUA nas décadas de sessenta e 10 BOAZ, David. Op. cit., p. 183/184.

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