Revista da EMERJ - V. 21 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2019 - Tomo 2
495 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 2, p. 494-555, set.-dez., 2019 TOMO 2 1. Introdução: Os contornos gerais do libertaria- nismo. O século XX parece ter sido o século do poder estatal. Após uma progressiva afirmação da liberdade a partir da sua solene proclamação como direito natural do indivíduo nas Revoluções Burguesas (séculos XVII e XVIII), o século passado foi marcado por coletivismos dos mais diversos matizes: do comunismo de Stalin e do fascismo de Mussolini e Salazar ao nacional-socialismo de Hitler; das ditaduras militares lati- no-americanas e africanas aos Estados do Bem-Estar Social altamente burocratizados na Europa, etc. A crença nutrida nos anos seguintes ao segundo pós-guerra a respeito do potencial de a intervenção estatal pro- pulsionar a economia e construir uma rede de seguridade social foi subs- tituída, no fim dos anos setenta, pela difusão da noção de que um Estado amplo fracassara, redundando em inflação, estagnação econômica e de- semprego. As técnicas dos monopólios estatais e da nacionalização das mais variadas empresas (telefonia, minérios, rádio, televisão, automóveis, etc.) revelaram que a intervenção direta do Estado na economia apresen- ta, recorrentemente, custos superiores e graus de eficiência e inovação inferiores aos das empresas geridas pela iniciativa privada. Mesmo em países que não se valeram tão intensamente dessas práticas, como foi o caso dos EUA, as pesadas taxação e regulação da economia contiveram drasticamente o crescimento econômico, na medida em que reduziram o incentivo do indivíduo para produzir riqueza. A vitória da Nova Direita na Inglaterra e nos Estados Unidos, com as eleições de Margareth Thatcher (1979) e de Ronald Reagan (1980), os movimentos de desestatização (v.g. privatização, quebra de monopólios estatais, etc), de flexibilização da Administração Pública e de redução do déficit público (especialmente o previdenciário) condensados nos postu- lados que integram o Consenso de Washington, e a atual desilusão do cidadão a propósito das potencialidades e virtudes da política e dos polí- ticos, parecem confluir para uma certa descrença acerca da aptidão de um Estado amplo satisfazer as expectativas - igualmente amplas - criadas com a sua instituição. Por outro lado, a superação do fascismo, do nazismo e, mais recentemente, do comunismo, e a universalização de instrumentos democráticos (eleições livres e periódicas, mecanismos de responsabiliza- ção de autoridades, liberdade de expressão e de associação partidária, etc.)
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