Revista da EMERJ - V. 21 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2019 - Tomo 2
445 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 2, p. 443-467, set.-dez., 2019 TOMO 2 Quando veio a sua indicação para o Supremo Tribunal Federal, a cena parecia se repetir. A primeira entrevista a que assisti, após o anúncio do seu nome, foi curiosamente gravada no aeroporto. A primeira imagem da matéria trazia o professor e futuro Ministro puxando a mesma mala. Pensei: – “Está indo ou vindo de alguma aula”. Creio mesmo que estava. Está sempre. Ainda hoje, Ministro do Supremo, toda quinta-feira, ao final das sessões plenárias, embarca para o Rio de Janeiro. Toda sexta-feira, pela manhã, dá aulas na UERJ. Também dá aulas no Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Faz palestras por todo o país e no exterior. Esse é o meu retrato de Luís Roberto Barroso. Ele é, antes de tudo, um grande professor. O professor fez o procurador, construiu o advoga- do, criou o ministro; e coloca, no dia a dia, a sua formação a serviço da vida prática e das instituições concretas – para pensar o Judiciário, para estudar e testar soluções que possam aprimorar o direito constitucional, para refletir sobre o Brasil. Mais uma palavra: a despeito da vida atribuladíssima e de dias muito duros, é amigo, leve, engraçado e sempre tem uma palavra positiva. Sou muito grata por esse convívio. É um grande líder, uma pessoa extrema- mente educada e disciplinada, sabe o que cada assessor pode render, sabe construir suas equipes e extrair, de forma saudável, o que cada um pode oferecer de melhor. Tem um olhar para cada assessor, acompanha o que se passa em nossas vidas, é alguém a quem se pode recorrer. Embora ocupe uma posição de muito poder, não perdeu a sensibilidade, nem o olhar para outro. É, de verdade e acima de tudo, um ser humano extraordinário, e creio que essa é a razão do seu maior sucesso. A questão-problema que é objeto deste artigo não é de surpreen- der, foi alvo de muitos debates em sala de aula, de estudos e de propostas que ganharam o espaço público, por meio da sua voz, e que acabaram modificando o jeito de decidir do Supremo Tribunal Federal. Essa é a mar- ca registrada desses anos do Ministro à frente do Tribunal: a inquietação quanto ao que precisa ser aprimorado, o recurso à academia para formular propostas de mudança e o esforço de empurrar uma agenda transforma- dora. Há certamente muito a ser feito, mas já contabilizamos alguns ga- nhos, como será possível constatar a seguir.
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