Revista da EMERJ - V. 21 - N. 2 - Maio/Agosto - 2019

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 52-118, Maio-Agosto, 2019  101 restrição à liberdade “natural” vai contra a igualdade na liberdade, eis que falta uma limitação comum a todos. Por isso uma liberdade igual, ao me- nos minimamente, só é possível sob o direito. Apenas em sociedade – quer dizer, sob uma ordem social que é jurídica – os indivíduos podem exercer um mínimo de autogoverno, por mais paradoxal que tal possa soar. A coa- ção jurídica estaria a serviço da liberdade e assim se justificaria, conforme explicou Kant. Kelsen argumenta: El símbolo de la libertad debe sufrir un cambio fundamental de significado para llegar a ser una categoría social. Debe dejar de significar la negación de todo ordenamiento social, un estado de naturaleza [...], y debe asumir el significado de un método específico para establecer el ordenamiento social, y un tipo es- pecífico de gobierno. Si la sociedad en general y el Estado en particular deben ser posibles, debe ser válido un ordenamiento normativo que regule el comportamiento mutuo de los hom- bres y, en consecuencia, debe aceptarse el dominio del hombre sobre el hombre por medio de tal ordenamiento. 118 Até aqui, parece ser possível resumir o raciocínio de Kelsen a um esquema bem simples: a liberdade é viável somente em sociedade, a qual não pode existir sem direito, ou seja, sem uma lei geral limitadora da liber- dade absoluta. O curioso é que Kelsen, não obstante sua crítica a Rous- seau, 119 acaba também por sustentar que tal liberdade limitada tem que ser autodeterminada pelo indivíduo: [...] si el dominio es inevitable [...] queremos ser dominados por nosotros mismos. La libertad natural se transforma en libertad social o política. Ser libres social o políticamente significa, cier- tamente, estar sujetos a un ordenamiento normativo, significa li- bertad subordinada a la ley social. Pero significa estar sujetos no a una voluntad ajena, sino a la propia, a un ordenamiento nor- mativo y a una ley en cuyo establecimiento el sujeto participa. 120 118 KELSEN, 1988b, pp. 230-231. O original é de 1954. 119 KELSEN, 1988a, p. 339. 120 KELSEN, 1988b, p. 231.

RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz