Revista da EMERJ - V. 20 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2018

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 88 - 114, Setembro - Dezembro. 2018  99 plenário, aquilo poderia gerar uma repercussão altamente negativa. Era melhor para todos buscar um texto negociado. O resultado veio com o retorno de Onyx à comissão, por volta das nove da noite. Das 18 medidas, apenas as primeiras 12 permaneceriam – ficaram a proteção do reportante do bem e os acordos penais, além das 10 originais, esvaziadas de alguns pontos mais polêmicos. Busquei acompanhar a sessão o mais discretamente possível. Recu- sei-me a falar com a imprensa, mas conversei com deputados, voluntários e vários funcionários da própria Câmara que vinham trazer palavras de apoio e incentivo à Lava Jato. A sessão foi até meia-noite, quando foi suspensa para ser retomada às nove da manhã seguinte. Ao sair do plena- rinho, o colega Angelo Goulart, que também passou o dia assistindo às discussões em atendimento à designação do procurador-geral, ouviu um deputado dizer a um grupo de advogados, todos com o broche da OAB: “Vamos colocar o MP no seu devido lugar.” Naquele momento, não levei muito a sério. Dias depois sentiríamos na pele o que isso queria dizer. Eu tinha ido passar apenas o dia em Brasília, levando só o laptop e um tablet. Mas tive que adiar meu retorno a Curitiba e procurar um hotel para passar a noite. Queria analisar o novo texto para que pudéssemos sugerir eventuais aperfeiçoamentos. A votação na Comissão Especial (23 de novembro) A maior lição que aprendi no primeiro dia que passei no Congresso é que boa parte do que acontece nas sessões públicas é teatro. No Parla- mento, as coisas importantes não são decididas no palco, mas nos bastido- res. No segundo dia, era esse terreno que precisávamos ocupar: falar com as lideranças dos partidos. Na maior parte das votações, os deputados sim- plesmente seguem a orientação dos líderes. Acompanhados do assessor parlamentar do Ministério Público, José Arantes, seguimos de liderança em liderança para expor nossas preocupações: era importante que as 10 Medidas avançassem, sem retrocessos ou “jabutis”. O ditado“Jabuti não sobe em árvore” chama a atenção para o fato de que algumas coisas não aparecem em um lugar inesperado naturalmente, mas são propositalmente colocadas lá por alguém. Daí surgiu o termo “jabuti” para indicar a inser- ção em um projeto de lei de uma norma alheia ao tema.

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