Revista da EMERJ - V. 20 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2018

 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 88 - 114, Setembro - Dezembro. 2018  96 e aos poderosos que praticam a grande corrupção. Somos como en- genheiros incumbidos de construir arranha-céus, mas o legislador nos oferece tábuas, martelos e pregos para o serviço. Não surpreende que a Lava Jato seja um ponto fora da curva. O construtor precisa de aço e concreto para edificar um arranha-céu, isso não é um favor que alguém lhe faz. É o mínimo necessário para que a obra possa ser realizada. Do mesmo modo, as 10 Medidas poderiam oferecer instrumentos adequa- dos ao Ministério Público e especialmente à Justiça para que o interesse da sociedade fosse satisfeito. Enquanto Onyx se reunia com os líderes partidários na residência oficial do presidente da Câmara, eu acompanhava, no plenarinho, as mani- festações dos membros da comissão. O deputado Fernando Francischini (SD-PR) pediu a palavra para denunciar que, contra a sua vontade, estava sendo substituído na Comissão Especial por determinação da liderança do seu partido, o Solidariedade. O mesmo estava acontecendo em relação a outros parlamentares que haviam declarado a intenção de votar a favor das 10 Medidas. Dos trinta participantes da comissão, dez foram substi- tuídos na última hora. Aquilo era um péssimo sinal. Não fazia qualquer sentido abduzir os deputados que estudaram o assunto ao longo de meses e acompanharam o depoimento de mais de uma centena de especialistas e substituí-los por outros, que cairiam de paraquedas no momento da vo- tação. Uma matéria no Estadão registrava que “nos bastidores, a mudança dos integrantes do colegiado tem sido apontada como uma tentativa de derrubar o parecer apresentado pelo relator, Onyx Lorenzoni, e conseguir aprovar um texto alternativo mais favorável aos interesses do Congresso”, um “pacote anticorrupção mais brando para a classe política”. Nos bastidores, dizia-se que isso era uma manobra dos líderes parti- dários para conduzir a votação em sentido contrário às medidas. Eles têm a prerrogativa de substituir os membros da comissão, mas uma mudança desse tipo deslegitimaria o processo e foi denunciada pela imprensa. Ao longo daquela tarde, os deputados se sucederam nos micro- fones para, em larga medida, reclamar do Ministério Público e criticar a pressão popular nas redes sociais e por e-mail. Insuflavam-se uns aos outros, dizendo que era preciso coragem para não se deixar influenciar pela opinião pública.

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