Revista da EMERJ - V. 20 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2018
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 88 - 114, Setembro - Dezembro. 2018 106 Na mesma quinta-feira em que reagimos à anistia, veio à tona, no fim da tarde, a informação de que Calero havia afirmado, em depoi- mento à Polícia Federal, que o presidente Temer o pressionara para que “construísse uma saída para que o processo fosse enviado para a AGU (Advocacia-Geral da União)”, pois Geddel estava “bastante irritado”. Revelou-se, ainda, que Calero havia gravado algumas de suas conversas com o presidente. Na sexta-feira seguinte Geddel renunciou, embora negasse as acusações. A polêmica envolvendo um dos articuladores do governo contri- buiu para piorar o clima político. Na mesma sexta, o Estadão estampava: “Para tentar conter ‘crise Geddel’, Temer deve vetar anistia a caixa dois.” Seria um recuo da posição anterior, em que teria sinalizado que sancio- naria a anistia. A pressão popular foi tamanha, que levou a uma entrevis- ta coletiva das mais altas autoridades do Executivo e do Legislativo para tranquilizar a sociedade. No domingo, o presidente Michel Temer e os presidentes das duas Casas Legislativas, Renan Calheiros e Rodrigo Maia, comprometeram-se a barrar a anistia para atender à voz das ruas, acres- centando que esse anúncio “desestimula qualquer movimento para fazer essa matéria tramitar no Congresso Nacional”. A ameaça da anistia parecia ter morrido aí. Contudo, esse não era o único risco que pairava sobre a Lava Jato. O país se volta para a tragédia da Chapecoense (29 de novembro) Na noite de segunda-feira, dia 28, trabalhei com Orlando Martello nos acordos da Odebrecht e da Braskem. Fizemos uma teleconferência com autoridades americanas para tentar desatar os nós que impediam o avanço das negociações. Enquanto isso, em Natal, no Rio Grande do Nor- te, acontecia a 14ª reunião plenária da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro. A ENCCLA, como é apelidada, é composta por mais de 70 órgãos públicos e entidades privadas que se ocu- pam da prevenção e do combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. São órgãos muito relevantes nessa área – TCU, CADE, CGU, AGU e COAF –, assim como o Judiciário, Ministérios Públicos, Polícias e Receita Fede- ral. Todo esse corpo, naquela noite, aprovou um manifesto reconhecendo
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