Revista da EMERJ - V. 20 - N. 3 - Setembro/Dezembro - 2018
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 88 - 114, Setembro - Dezembro. 2018 101 – Eu não vou levar vocês aos vaqueiros, mas ao dono da fazenda. E assim eles foram parar no gabinete de Rodrigo Maia, com quem tiveram uma conversa franca. No dia seguinte, quarta-feira, fomos duas vezes ao “fazendeiro”. O trabalho da operação seguia e, não raro, tinha que me virar para compatibilizar as coisas. Numa delas, enquanto aguar- dávamos para ser recebidos pelo presidente da Câmara, empenhei-me para costurar com colegas norte-americanos soluções para problemas do acordo global que a Odebrecht fazia com Brasil, Estados Unidos e Suíça. Andei de um lado para outro na Câmara, falando ao telefone, com cuidado para que ninguém ouvisse a conversa, já que a negociação corria em sigilo. Para Maia, apresentamos nossos pedidos e preocupações. Bastante educado, ouviu atentamente e se comprometeu a tentar atender o que fos- se possível. As conversas se alongaram durante o dia e, diante da perspec- tiva de que a votação das medidas adentrasse a noite, mais uma vez adiei meu retorno a Curitiba. Naquela noite, o relatório de Onyx, que acabou incorporando algu- mas das cinco sugestões que fizéramos ao longo do dia, foi levado a votação. Para nossa surpresa, nenhum dos dois jabutis foi colocado nessa árvore. No entanto, outras coisas estranhas estavam acontecendo. Já era perto de meia-noite e o plenário da Câmara continuava aberto. Os deputados aguar- davam a aprovação das 10 Medidas pela Comissão Especial para coloca- rem-nas em votação naquela mesma madrugada. As conversas indicavam ainda que, já no dia seguinte, seriam votadas no Senado. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Tinha algo de errado nisso – e possivelmente seria a aprovação da anistia ao caixa dois. Porém ainda não havia nada de concreto ou oficial nesse sentido. Eu estava apreensivo. Acompanhado de Fabio Oliveira, do movi- mento apartidário MUDE – Chega de Corrupção, ocupávamos o salão verde, um grande espaço junto ao plenário principal da Câmara. Ele já era conhecido de longa data. Estávamos cansados. A certa altura um funcionário da Câmara nos contou que o traba- lho no plenário estava sendo encerrado. A eventual votação na Câmara ficaria para o dia seguinte. Ainda que as 10 Medidas fossem aprovadas na Comissão Especial naquela noite, não haveria um documento pronto a ser apreciado pelo plenário porque algumas alterações estavam sendo
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