Revista da EMERJ - V. 20 - N. 2 - Maio/Agosto - 2018
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 261-276, Maio/Agosto. 2018 271 da de caráter simbólico, que perpassa a memória de um grupo (me- mória coletiva) e se consubstancia no uso que um indivíduo faz dela (memória individual) para comunicar-se com o grupo de indivíduos de que faz parte, por meio (privilegiado) da língua. Por sua competência linguística, então, o indivíduo pode re- correr à memória coletiva em que está inserido para buscar formas de expressão que comuniquem seu efeito de sentido pretendido; por seu desempenho ou habilidade linguísticos, o indivíduo con- segue (com maior ou menor sucesso) concretizar essas formas de expressão. Essas são razões para crermos, aliás, que mesmo um tex- to que se proponha não ter um interlocutor externo, como um “diário” de anotações pessoais, por exemplo, também possa ser considerado elemento de comunicação. Nesse caso, a coincidên- cia do interlocutor com o locutor (isto é, o fato de ser a mesma pessoa) não impede que a mensagem ecoe precedida por um aparato de memória coletiva de que o locutor-interlocutor se valeu, e que essa mensagem venha revestida, assim, de todo o seu caráter simbólico adquirido em função do convívio daquela pessoa com a coletividade em que está inserida. Por essa razão, observa-se com justificado ceticismo quem queira ver na palavra e na linguagem um mero “instrumento”, como discutimos acima, isso porque [As palavras] Não são meros instrumentos, mas par- tes essenciais dos acontecimentos que dinamizam as relações sociais e fazem a história das sociedades, a própria face do relacionamento humano. [...] Eu diria, até mesmo, que a linguagem é muito mais que um instrumento: ela é o próprio espaço simbó- lico que torna possíveis essas representações e, em larga medida, é por meio dela que modelamos men- talmente o que chamamos de contexto em que inte- ragimos. (AZEREDO: 2008, p. 18) Hjelmslev abre seus Prolegômenos a uma teoria da linguagem , ver- dadeiro arquitexto, refletindo sobre a natureza imantada ou imanente da palavra em relação ao ser humano. Traduzimos, abaixo, as partes de seu capítulo 1 (“Recherche linguistique et theorie du langage” [“Pesquisa linguística e teoria da linguagem”]) que encarecem so-
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