Revista da EMERJ - V. 20 - N. 2 - Maio/Agosto - 2018
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 261-276, Maio/Agosto. 2018 268 Os primeiros são baseados em relações existentes na na- tureza entre os fenômenos, como, por exemplo, a asso- ciação “nuvem-chuva”; todos os nossos conhecimentos, nossas técnicas, nossas ciências, constituem uma tomada de consciência mais ou menos sutil e mais ou menos exata dessas relações naturais, que tomam valor de signo na medida em que as associamos em nosso espírito. Os signos artificiais são fabricações 9 humanas (ou ani- mais) e se subdividem por sua vez em dois grupos: al- guns nos servem para representar o real – um desenho, um plano, uma gravação fonográfica, por exemplo; ou- tros nos servem para nos comunicarmos com outrem – a linguagem articulada, um gesto de polidez, um sinal; o limite entre essas duas funções não é estanque, porque utilizamos muitas vezes signos de representação para co- municarmos – uma fotografia, por exemplo. Mas é por sua natureza que esses dois grupos se diferenciam, os primeiros são reproduções dos caracteres naturais da re- alidade – imagens, ou ícones, os segundos são signos convencionais – símbolos. (GUIRAUD: 1972, p. 17-18) O estudo das significações das palavras – abarcando essa sua na- tureza simbólica, memorialista e inevitavelmente viva pela prática dos usos interativos – é satisfatoriamente empreendido pela Semântica, que se vale de outras disciplinas para angariar pujança às suas conclusões. Não é à toa que Claudio Cezar Henriques tenha dedicado um volume de sua coleção sobre Língua Portuguesa e Linguagem (Cole- ção Português na Prática) não exclusivamente ao léxico, nem exclu- sivamente à semântica, mas a ambos conjugados: sua obra se intitula Léxico e Semântica. Estudos produtivos sobre palavra e significação (HEN- RIQUES, 2011). A obra parte de capítulo dedicado à “Língua, Lógica e Linguagem” (capítulo 1), esquadrinha rigorosamente as diversas possi- bilidades de relações semânticas entre as palavras e culmina em capí- tulo endereçado à “Semântica do texto e do contexto” (capítulo 6). Isto 9 Observe-se como é interessante o fato de que grandes pesquisadores oscilam entre 1) nomear as palavras, os signos e a própria linguagem como “fabricações” e, em outros momentos, 2) expressar pudor em vê-las como “instrumentos”. Na verdade, cremos que esses pesquisadores não apontam para ideias contraditórias, mas apenas emprestam aos conceitos que usam acepções mais estritas ou mais genéricas, o que permite que, muitas vezes, não se esteja discutindo ou contras- tando um conceito, mas, no fundo, como dissemos, acepções emprestadas a ele.
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