Direito em Movimento - Volume 20 - Número 1 - 1º semestre - 2022

99 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 20 - n. 1, p. 94-106, 1º sem. 2022 ARTIGOS 3. A RELAÇÃO DE CAUSA E CONSEQUÊNCIA ENTRE A CRISE AMBIENTAL E O SURGIMENTO DE DOENÇAS – HIPÓTESE DE GAIA: Ao se fazer um paralelo entre a crise ambiental e o aparecimento de novas doenças, vale destacar a afirmativa de Davis et al. (2020) sobre a re- lação entre o surgimento da covid-19 e a exploração desenfreada do meio ambiente, considerando a Terra como organismo vivo: “Se eu quisesse ser antropomórfico e metafórico sobre isso, concluiria que a covid-19 e a vingan- ça da natureza por mais de quarenta anos de maus-tratos grosseiros e abusivos da natureza sob a tutela de um extrativismo neoliberal violento e desregulado” (DAVIS, et al , 2020). Dentro desse contexto, importante abordar a famosa Hipótese de Gaia, que é uma hipótese da ecologia que estabelece que a Terra é um imenso organismo vivo. Tal teoria foi criada por James Lovelock em 1979 e prevê que o planeta é capaz de obter energia para seu funciona- mento enquanto regula o clima e a temperatura, inclusive eliminando seus detritos e combatendo as suas próprias doenças, como os demais seres vivos lesivos ao seu funcionamento, se autorregulando (FIRMO & FINAMORE, 2020). De acordo com essa hipótese, os organismos bióticos controlam os or- ganismos abióticos, de forma que a terra se mantém em equilíbrio e em con- dições adequadas para sustentar a vida (FIRMO & FINAMORE, 2020). Destarte, para Lovelock, existe uma estrita relação entre o sucesso evolutivo dos organismos, sua evolução e a evolução do ambiental mate- rial onde esses organismos se encontram. É como se houvesse uma uni- ficação entre a teoria da evolução biológica e geológica. E como a Terra, para essa teoria, é um organismo autopoiético, do mesmo modo que há uma evolução conjunta dos seres e do ambiente natural, o contrário tam- bém ocorre. Desse modo, se uma espécie de ser vivo prejudica o ambiente onde ele está inserido, ela deverá ser extinta; inversamente, se a espécie é capaz de tornar o ambiente melhor, ela terá uma vantagem (TAVARES & El-HANI, 2002).

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