Direito em Movimento - Volume 20 - Número 1 - 1º semestre - 2022

96 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 20 - n. 1, p. 94-106, 1º sem. 2022 ARTIGOS 2. O SURGIMENTO DA PANDEMIA: O ano de 2020 entrou para a história com o surgimento de uma pan- demia capaz de isolar o mundo inteiro e que causou uma grande perda social em razão do ininterrupto número de mortes – que em meados de julho de 2020 ultrapassou, oficialmente, 80 mil apenas no Brasil. Até no abalo econômico nos mais diversos cantos do planeta, o ano de 2020 está sendo visto por alguns como uma luta pela sobrevivência (Folha de São Paulo, 2020). Apesar de o avanço tecnológico e o aparente desenvolvimento huma- no nas ciências indicarem uma ideia de progresso, de evolução e de possibi- lidades incontáveis, a imagem do homem enquanto agente modificador do universo pode gerar uma sociedade de incertezas. Assim, apesar das trans- formações aceleradas, a única certeza é a de que as ações humanas terão consequências, que eventualmente poderão implicar até mesmo na destrui- ção da Terra, conforme relatam Bolzan e Saraiva (2018, p. 15). O homem estipula o que é certo e errado, o que deve ou não ser feito, ao seu critério, de acordo com seus valores. Todavia, para Oswald Spengler (1932, p. 22), a verdade é que os critérios e parâmetros esta- belecidos pelo homem não têm nada a ver com o verdadeiro e falso. A ligação de causa e efeito entre as ações do homem é que são as verdades nas quais se pode acreditar. Mas, ao contrário disso, o homem, enquanto animal racional, disse- minou a ideia de que ele era o senhor do mundo, o ser mais importante, enxergando, assim, todo o resto da natureza como meio, e todas as demais espécies como ferramentas para que ele pudesse atender aos seus interesses individuais enquanto espécie dominante. E é dentro desse contexto de exploração e de dominação antropocên- trica da natureza como um todo que se está diante de uma crise ambiental que requer uma proteção global do meio ambiente, uma vez que os riscos ultrapassam as fronteiras geográficas dos estados e continentes. O não reconhecimento da urgência da mudança de hábitos políticos e sociais pode implicar desde alterações climáticas até o surgimento de vírus,