Direito em Movimento - Volume 20 - Número 1 - 1º semestre - 2022

25 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 20 - n. 1, p. 15-40, 1º sem. 2022 ARTIGOS 3.1. A unidade da linguagem universal como superação guiada pelo modelo dialógico Ao tratar acerca do papel da linguagem como medium hermenêutico, por meio da qual a comunicação e o diálogo transcorrem, Gadamer relem- bra, no texto Linguagem e Compreensão , que o assunto, na modernidade, so- fre críticas sem debates mais detidos por grandes filósofos. Particularmente associadas às tentativas de entendimento entre blocos políticos de nações, gerações ou ainda em múltiplas áreas da ciência, têm-se visualizado uma série de discordâncias fundamentais, na colocação das palavras e a ideali- zação de seu significado uniforme. Até mesmo por conta dessa dimensão dissidente, “persiste o antagonismo que faz da linguagem algo comum e que, não obstante, permite o surgimento de sempre novos impulsos para a transformação desse comum.” (GADAMER,1970, p. 150). No entanto, é Gadamer mesmo quem rebate esse falatório, a partir de uma ideia de acordo com a qual o êxito de tratativas e conversas oficiais ou não que caminham para uma solidariedade ética assujeitam-se à co- munhão unificada de compreensão: “tudo que é justo e se considera como justiça exige, por sua natureza, essa comunhão, que se instala na compreen- são recíproca das pessoas.” (GADAMER, 1970, p. 148). Por outra forma de expressar, a lógica enunciativa empregada cotidianamente no discurso culmina por obscurecer a essência da linguagem comum e compartilhada. Justamente nessa atmosfera, a linguagem, como elemento mediador de transmissão da experiência da consciência coletiva, desempenha seu papel não por enunciados semânticos isolados, mas contrariamente por uma uni- dade de sentidos e movimentos que se antecipam à compreensão. Opinião similar é referendada por Luiz Rohden (2004, p. 193), ao discorrer sobre o modelo dialógico efetivado na dialética gadameriana, como primado da linguagem responsável por provocar o envolvimento dos partícipes no movimento reflexivo do filosofar, onde não se esgo- tam as possibilidades de contínuas perguntas e respostas em relação aos fenômenos. Malgrado esse panorama experiencial, o campo de estudo hermenêu- tico contemporaneamente é composto exatamente pela mediação da lin-

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