Direito em Movimento - Volume 20 - Número 1 - 1º semestre - 2022
130 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 20 - n. 1, p. 120-142, 1º sem. 2022 ARTIGOS Ainda na discussão do caso, houve preocupação com as questões éti- cas envolvidas, considerando-se o longo período transcorrido, a falta de informações sobre o contexto atual das famílias, bem como o desconheci- mento quanto à previsão legal sobre a prerrogativa da genitora em reque- rer uma possível aproximação, havendo ainda desconfiança sobre as reais motivações para um encontro. A propósito, cabe apontar que, via de regra, a família adotiva apresenta condições socioeconômicas mais favoráveis que as famílias de origem, o que pode gerar , a priori , especulações sobre razões espúrias para a solicitação do contato. No entanto, o fato de haver uma decisão judicial para a intervenção fez diferença na compreensão do caso, sendo que o grupo desfavorável à sua realização não conseguiu apresentar razões técnicas suficientes para justificar as dúvidas suscitadas quanto ao cumprimento da determinação judicial exarada nos autos, entendendo-se assim que algum contato preliminar com as partes precisaria ser realizado. Nesse contexto de muitos questionamentos, iniciou-se a intervenção da Equipe Técnica da vara. Uma dupla de profissionais (Assistente Social e Psicólogo) se voluntariou para o atendimento conjunto às partes do pro- cesso. Após a leitura dos autos, foi realizado o planejamento da intervenção, entendendo-se pertinente a realização de entrevista inicial com a genitora para melhor compreensão acerca das suas motivações e, ainda, para dar-lhe alguns esclarecimentos sobre a intervenção, incluindo a possibilidade da não aceitação da filha em encontrá-la. Na interação com a genitora Ana, ficou evidente sua carga de sofrimento, bem como o genuíno interesse em saber notícias da filha. Chamou atenção o fato de a entrega ter permaneci- do em segredo ao longo de mais de 30 anos para toda a sua família. Perce- beu-se que ela aproveitou o espaço de atendimento para expor uma parte de sua vida que havia permanecido em segredo até então. Ao término dessa primeira entrevista, deixou seus telefones e foi orientada a aguardar. Após a discussão técnica referente ao primeiro atendimento, enten- demos que deveríamos dar continuidade à intervenção planejada, optando por contato telefônico inicial com a mãe por adoção, Catarina, questio- nando-a se sua filha tinha conhecimento sobre a adoção, ao que respondeu afirmativamente. Durante o telefonema, mostrou-se emocionada e favorá-
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz