Direito em Movimento - Volume 19 - Número 2 - 2º semestre - 2021

248 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 19 - n. 2, p. 237-260, 2º sem. 2021 ARTIGOS Graça Aranha nos passa a informação ao longo de sua obra literária de que o agrimensor não tinha conhecimento para utilizar esse equipamento e que muitas medições eram realizadas sem a sua utilização. Após a apresen- tação desse diálogo, ele ainda esclarece: Os trabalhadores miravam-se todos com ar de inteligente. Cum- pria-se a velha e costumada comédia do teodolito. Eles sabiam bem que o agrimensor, em mais de duzentas medições, não conseguia trabalhar com o maldito instrumento, que sobre ele exercia uma in- fluência satânica, lhe alterava o caráter, o punha fora de si e era causa desse terror, cujos prenúncios lhe sombreavam o espírito desde o fim do almoço. À medida que o teodolito ia desaparecendo na caixa, a alma de Felicíssimo ia-se libertando da angústia, e o seu jovial hu- mor o retomava fracamente, apagando os traços da agonia científica. (ARANHA, 1982, p. 95). Diante de tudo o que foi aqui apresentado dessa obra realista, escrita no início do século XX, qual a relação existente entre o conteúdo aqui apresen- tado e a aquisição do direito de Posse e Propriedade existente no interior do estado do Espírito Santo? É a questão que responderemos no próximo ponto. 3. Os reflexos da medição realizada por Feli- císsimo nos dias atuais Através de dados coletados por meio de entrevistas realizadas durante a feitura da pesquisa empírica que deu origem à tese de doutorado em Di- reito intitulada a “Via Crucis do Cidadão Capixaba: Herança e Propriedade” (BERNARDINA, 2019), algumas informações sobre problemas registrais em relação à medição e demarcação das terras no final do século XIX e iní- cio do século XX foram identificadas e geram efeitos burocráticos maléficos até os dias atuais. Uma delas foi a medição da terra por correntes e cordas. Analise a fala de uma das entrevistadas sobre o problema por ela narrado: “O negócio é o seguinte: na escritura não tem terra suficiente, por- que faltam trezentos metros para cada terreno ter sua escritura. Só que quando o agrimensor mediu, deu uma diferença. A gente

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