Direito em Movimento - Volume 19 - Número 2 - 2º semestre - 2021

243 ARTIGOS Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 19 - n. 2, p. 237-260, 2º sem. 2021 “A decadência das fazendas, mormente em consequência das crises econômicas e da agricultura depredadora que praticamos, é também um fator que não se limita a São Paulo, mas está generalizada pelo menos a toda a região do Café: no seu deslocamento constante, a lavoura cafeeira irá deixando para trás terras cansadas e já imprestá- veis para grandes lavouras, estas terras depreciadas serão muitas ve- zes aproveitadas pelas categorias mais modestas da população rural que nelas se instalam com pequenas propriedades. O fato pode ser facilmente observado no Espírito Santo, Estado do Rio e das Minas Gerais, em particular no Vale do Paraíba...” (LEAL, 1973, p. 26). Como vimos, não foi apenas o empobrecimento das terras em decor- rência da lavoura cafeeira que promoveu a ruína dos grandes latifúndios no estado do Espírito Santo. Questões políticas e sociais promovidas ao longo do Império e da República fizeram com que surgissem pequenas proprie- dades rurais espalhadas por todo o território. Diante do fim da escravidão e da dificuldade de competir com melhores oportunidades apresentadas aos imigrantes, o grande latifundiário vendeu ou arrendou suas terras para os estrangeiros (CAMPOS, 2013, p. 166 a 168). Em trecho de sua obra, Graça Aranha retrata essa desilusão do povo capixaba com as políticas implemen- tadas pelo governo central brasileiro: “- Ah, tudo isso, meu sinhô moço, se acabou... Cadê fazenda? De- funto meu sinhô morreu, filho dele foi vivendo até que o Governo ti- rou os escravos.Tudo debandou. Patrão se mudou com a família para Vitória, onde tem seu emprego; meus parceiros furaram esse mato grande e cada um levantou casa aqui e acolá, onde bem quiseram. Eu, com minha gente, vim para cá, para essas terras de seu coronel. Tempo hoje anda triste. Governo acabou com as fazendas, e nos pôs todos no olho do mundo, a caçar de comer, a comprar de vestir, a trabalhar como boi para viver. Ah! Tempo bom da fazenda! A gente trabalhava junto, quem apanhava café apanhava, quem debulhava milho debulhava, tudo de parceria, bandão de gente, mulatas, cafu- zas...” (ARANHA, 1982, p.34). Logo, o Espírito Santo não é marcado por grandes latifúndios, co- ronéis, jagunços, apadrinhamentos como ocorreu no nordeste brasileiro.

RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz