Direito em Movimento - Volume 19 - Número 2 - 2º semestre - 2021

242 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 19 - n. 2, p. 237-260, 2º sem. 2021 ARTIGOS RONI e MOREIRA, 2007. p. 59). “(...). Essas boas condições abreviaram a sua permanência na grande propriedade. Conseguiu amealhar recursos e comprar sua terra...” (CAMPOS, 2013, p. 67). Graça Aranha, em seu romance realista, Canaã, utilizou esse contexto para o enredo do romance entre Milkau e Maria. Nessa obra literária, existe uma passagem que descreve muito bem o sentimento do grande latifundiá- rio capixaba. O autor narrou com clareza as condições em que se encontra- vam os coronéis capixabas após o fim da escravidão: “Milkau cumprimentou, tirando cortesmente o chapéu; o homem lá no alto correspondeu, erguendo indolente o sombreiro de palha. O dono da fazenda, de pés nus, calça de zuarte, camisa de chita sem goma, parecia, com a barba branca, muito velho, atestando na alvura da tez a pureza da geração. A fisionomia era triste, como se ele tivesse consciência de que sobre si recaía o peso do descalabro da raça e da família; o olhar turvo, apagado para os aspectos da vida como o de um idiota; o esgotamento das suas faculdades, das emo- ções e sensações era completo e o reduzia a uma atitude miseranda de autômato. Mas, ainda assim, ele representava a figura humana, a mesma vida superior envolta na queda das coisas, arrastada na ruí- na geral. E não há quadro mais doloroso do que este em que a ação do tempo, a força da destruição não se limita somente às tradições e aos inanimados, mas envolvendo delas o eixo central da morte e aumentando a sensação desoladora de uma melancolia infinita. (...) Milkau notou, além disso, no grande desleixo da casa abandona- da, restos de maquinismos espelhados pelo chão, tubos, caldeiras, rodas dentadas, atestando ter havido ali uma instalação melhor, que o homem, caindo de prostração, perdendo todo o polido de uma civilização artificial, abandonara agora em sua decadência...”. (ARANHA, 1982, p. 31) Fica claro que a forma de ocupação do Espírito Santo foi diferente da dos demais estados do Brasil. Aqui não se enquadram obras como “Casa Grande e Senzala” ou “Coronelismo, Enxada e Voto”, este cuja autoria é de Victor Nunes Leal. O autor citado ressalta exatamente isso:

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