Direito em Movimento - Volume 19 - Número 2 - 2º semestre - 2021
190 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 19 - n. 2, p. 183-210, 2º sem. 2021 ARTIGOS de la Madre Tierra para el Vivir Bien de las generaciones actuales y las futuras”. Nessa passagem, também está manifesto que a Mãe Terra deve servir ao bem viver humano. Certo é que, ao conferir um peso desproporcional aos direitos da es- pécie humana, quando em colisão com os direitos da natureza ou de outros seres, acaba ocorrendo o que se pode chamar de “especismo”, ou seja, uma diferenciação estribada apenas na espécie. Nessa direção, Lourenço e Oliveira: Os defensores dos direitos da natureza, que comem carne de ani- mais, vestem suas peles, além de muitas outras formas de uso, tem o ônus argumentativo de explicar o motivo pelo qual não incor- rem em antropocentrismo, a razão pela qual não são especistas . [...] O especismo está travestido, disfarçada e subjacentemente permanece dando o tom das discriminações entre seres huma- nos e animais, plantas, ecossistemas, montanhas, mares, enfim . (LOURENÇO, 2013, p. 190). (grifo nosso) Vislumbra-se que a palavra “direitos”, quando empregada em favor da natureza, ou de outros seres, possui uma acepção frouxa, o que dá azo à instrumentalização/coisificação destes, visando a atender unicamente a espécie humana. Assim, pode-se afirmar que os ecocêntricos, em virtude das ressalvas permitidas, inegavelmente são antropocêntricos e especistas. Ao discorrer a respeito dos direitos da natureza, de forma apartada do homem, registraram Coimbra e Milaré: O ambiente e as coisas são meramente elementos implicados nas relações entre as pessoas e os seus interesses, por vezes contraditó- rios, e nos objetivos da sociedade humana. Por si só, o direito não reconhece do valor intrínseco do mundo natural nem do da vida e das suas teias. [...] Os ‘interesses’ do mundo natural não-humano simplesmente inexistem, e a Natureza resta abandonada à própria sorte . É incrível como esse vácuo abissal ainda se prolonga no Direi- to moderno... (COIMBRA, 2004, p.18) (grifo nosso)
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz