Direito em Movimento - Volume 18 - Número 3 - Edição Especial
240 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 3, p. 236-258, 2020 - Ed. Especial ARTIGOS de portugueses; processo de urbanização advindo da mineração após o des- cobrimento das minas de ouro; b) a transferência da Família Real para o Rio de Janeiro em 1808; c) a difusão da imprensa: livros, jornais, teatros. As medidas político-administrativas também propiciaram o declínio da língua geral. Na metade do século XVIII, a língua geral se encontrava em regres- são, mas ainda era falada no Amazonas e no Pará (ELIA, 1979, p. 193). Com as reformas realizadas pelo Marquês de Pombal, houve a imposição do português, sobretudo para a erradicação das línguas indígenas, pois, no Amazonas, estavam em processo de expansão. A partir de 1560, o tráfico de escravos africanos é intensificado e cerca de 300 línguas africanas juntam- se ao português do colonizador e às línguas indígenas. 1.2 Uma ditadura linguística Segundo Nina Rodrigues (1977, p. 123), no Brasil, os negros recém- chegados da África eram obrigados a aprender duas línguas: o português, para a comunicação entre os brancos e os negros nascidos no Brasil, e a língua africana, para a interação com os demais escravos. Na vinda para o Brasil, os negros eram separados considerando a língua por eles falada e o vínculo familiar; eram misturados com outros negros de línguas e famí- lias diferentes para dificultar a comunicação entre eles e evitar rebeliões; ainda eram rebatizados e perdiam seus nomes de origem, sendo-lhes im- postos prenomes lusitanos (CARBONI; MAESTRI, 2006, p. 28). Nina Rodrigues considera que houve um processo representado pelo binômio perda/aquisição, pois “perdiam” suas línguas de origem e adquiriam outras. Analisando a história do Brasil no que se refere ao padrão linguístico, per- cebemos que ocorreu uma ditadura linguística, que consistiu mais em uma exclusão do que em uma unificação linguística. Décio Freitas, em Palmares: a Guerra dos Escravos , retrata um sincre- tismo linguístico, segundo o qual os africanos incorporavam itens lexicais do português ou do tupi aos dialetos africanos porque não podiam adotar em terras brasileiras uma das línguas nativas africanas. “Falam uma língua toda sua, às vezes parecendo da Guiné ou de Angola, outras parecendo
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