Direito em Movimento - Volume 18 - Número 3 - Edição Especial
146 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 3, p. 128-153, 2020 - Ed. Especial ARTIGOS ainda em tempos atuais, uma vez que essa discussão já foi posta anterior- mente. Todavia importa compreender a dimensão do que era o escravagis- mo no contexto econômico e político do Brasil, pois somente entendendo a absorção do negro escravizado na economia brasileira e sua importância no modo de produção adotado na colônia é que se percebe a dimensão de resistência que o quilombo possuía e possui. Frequentemente, os quilombos são retratados meramente como fuga dos negros escravizados no anseio pela liberdade, de uma perspectiva to- talmente individualista. Entretanto, muitos intelectuais chamaram e ainda chamam a atenção para o quilombo como meio de resistência à escravi- dão criminosa e ao modo de produção devastador na colônia, que talvez se configure como único modelo de agricultura de subsistência que existiu no período colonial. É necessário revisar criticamente grandes nomes da sociologia nacional que contribuíram para uma noção totalmente equívoca de passividade dos negros escravizados, entre eles, alguns dos referenciais teóricos que servem de base para a discussão sobre o patrimonialismo. O fim da escravidão, sem dúvidas, representa uma ruptura social de extrema importância, se não a mais importante da história do Bra- sil, afinal assinala uma mudança de modo de produção, de política e de economia, ainda que os problemas resultantes do período não tenham sido resolvidos. A abolição está intimamente ligada aos quilombos e ao movimento ativista negro. O movimento abolicionista, embora impor- tante e composto por pessoas negras, é um movimento localizado na his- toriografia. Ao contrário do movimento abolicionista, o quilombo é um forte de resistência contra a escravidão e o modo de produção instalado no Brasil permanente, presente desde os primeiros desembarques de ne- gros escravizados na colônia portuguesa. Clóvis Moura, intelectual de grande relevância na mudança de para- digma conceitual do quilombo na sociologia nacional, no livro Rebeliões da Senzala, publicado pela primeira vez em 1959, momento importante do debate intelectual brasileiro, assegurou categoricamente:
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