Direito em Movimento - Volume 18 - Número 3 - Edição Especial

135 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 3, p. 128-153, 2020 - Ed. Especial ARTIGOS Uma vez que somente o uso da força na política não é capaz de coordenar os comportamentos desejados, é preciso uma unificação ideológica, criando um imaginário “que acentue a unidade social, apesar de fraturas como a divisão de classes, o racismo e o sexismo” (2019, p. 38). Histórico, pois além das formas sociais, depende da formação social de cada sociedade. O autor prova tal afirmação chamando a atenção para o fato de que a classificação racial é diferente a depender do país (vide EUA e Brasil). Isso porque ela variará de acordo com as necessidades apresentadas ao longo da história de formação nacional dos Estados contemporâneos: Os diferentes processos de formação nacional dos Estados contem- porâneos não foram produzidos apenas pelo acaso, mas por projetos políticos. Assim, as classificações raciais tiveram papel importante para definir as hierarquias socias, a legitimidade na condução do poder estatal e as estratégias econômicas de desenvolvimento (AL- MEIDA, 2019, p. 39). Nesse sentido, são necessários alguns apontamentos sobre a formação do Estado, especialmente sua relação com o capitalismo. Almeida propõe uma interessante análise ao rememorar as sociedades pré-capitalistas com um viés de comparação para que se delineie o caráter imprescindível do Es- tado Contemporâneo para o capitalismo. Importa a percepção de que nas sociedades pré-capitalistas há uma difusão do poder, isto é, o poder não se encontra centralizado, e sim pertence aos detentores dos meio de produção, de modo que ocorre a sua fragmentação. É o que acontece, por exemplo, na sociedade feudal, em que cada senhor de feudo exerce o poder no alcance de seu domínio. Esse modo de organização impossibilita o capitalismo, haja vista não permitir a formação de mercado ou de competitividade e não possuir a segurança estatal necessária para seu desenvolvimento. Por isso a comparação proposta por Almeida é tão importante, uma vez que o poder precisa estar, ao menos supostamente, centralizado na figura de um Estado impessoal e imparcial. De acordo com o autor: No capitalismo, a organização política da sociedade não será exer- cida pelos grandes proprietários ou pelos menos de uma classe, mas

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