Direito em Movimento - Volume 18 - Número 3 - Edição Especial

132 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 3, p. 128-153, 2020 - Ed. Especial ARTIGOS homem medieval teocêntrico permitiu que as pessoas ponderassem sobre sua própria existência de modo independente do sagrado, isto é, movidos pela razão dos Racionalistas. Almeida assegura que a “expansão econômica mercantilista e a descoberta do novo mundo forjaram a base material a partir da qual a cultura renascentista iria refletir sobre a unidade e a multi- plicidade da existência humana ” (2019, p. 18). O homem se torna sujeito e objeto de estudo, “enquanto ser vivo (biologia), que trabalha (economia), pensa (psicologia), e fala (linguística)” (LAPLANTINE, 2012, p. 55). Nesse contexto é que se criam meios de dis- tinção que serviriam para hierarquização e classificação das pessoas, basea- das nos seus fenótipos ou na região em que viviam, culminando no racismo científico, disseminam-se as noções de determinismo biológico e geográfico, “desse modo, a pele não branca e o clima tropical favoreciam o surgimento de comportamentos imorais, lascivos e violentos , além de indicarem pouca inte- ligência” (ALMEIDA, 2019, p. 21). Sobre essas bases se estabelecem as re- voluções liberais e todo o pensamento do liberalismo, e assim, o pretensioso objetivo de levar a civilização para os primitivos, de acordo com Almeida: As revoluções inglesas, a americana e a francesa foram o ápice de um processo de reorganização do mundo, de uma longa e brutal transição das sociedades feudais para a sociedade capitalista, em que a composição filosófica do homem universal, dos direitos universais e da razão universal mostrou-se fundamental para a vitória da civi- lização . [...] E foi esse movimento de levar a civilização para onde não existia que redundou em um processo de destruição e morte, de espoliação e aviltamento, feito em nome da razão e a que se denomi- nou colonialismo (2019, p. 19). A utilização de características físicas e condições geográficas como meio de explicação das diferenças culturais consagram o homem univer- sal e os ideais da Revolução Francesa, legitimando uma série de violên- cia e exploração do período colonial. Nessa vereda, a Revolução Haitiana protagonizada pelos escravizados de São Domingos é importantíssima na revelação das contradições dessas revoluções burguesas europeias que pro- clamavam seus ideais de igualdade e liberdade, ao passo que, sob uma lógica

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