Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020
92 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 73-107, 2º sem. 2020 ARTIGOS desconsidera as relações hierárquicas de gênero e coloca a violência como conflito entre iguais. As mulheres que “vitimaram os homens” aparecem como loucas, bê- badas, ingratas, escandalosas, que não estão à altura deles – homens bem- queridos e honrados: O erro foi meu de ter um relacionamento com a mulher que não é à minha altura (...). Até meu pai mesmo falou, falou as- sim: “Como que você consegue viver com uma mulher dessas, cara?”. ( José Carlos) Aí minha mãe antes de morrer, me lembro que minha falecida mãe ainda falou: “Sérgio, bota a cabeça no lugar, Sérgio, isso daí não é mulher pra você”. (Sérgio) Os sentimentos de injustiça, vitimização e culpabilização da vítima aparecem em grande frequência e intensidade em todos os estudos e em todos os momentos da escuta aos HAV. Observa-se que o discurso viti- mista dos HAV na entrevista após a conclusão do ciclo de oito encontros é o mesmo encontrado nos registros das entrevistas realizadas pela equipe técnica para encaminhamento aos grupos. Tema: PERCEPÇÕES E SENTIMENTOS SOBRE A VIVÊNCIA NO GRUPO Neste tema, estão as falas dos entrevistados acerca dos seus sentimen- tos e ideias sobre a vivência no grupo. Do subtema “DESCONFIANÇA/ INSEGURANÇA” , destacamos o código “Presença simbólica do juiz” . Subtema: DESCONFIANÇA/INSEGURANÇA: “Melhor pensar no que diz!” Algumas falas sugerem, direta ou indiretamente, uma desconfiança quanto aos propósitos do grupo e, consequentemente, da entrevista e da
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