Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020

125 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS bém a linha de defesa de certo garantismo das leis e dos direitos fundamen- tais, dos direitos humanos contra os excessos. Um papel evidentemente não linear e absorto em contradições. A menção às contradições como elemento constitutivo do papel social dos bacharéis demanda sair de certo dogma- tismo teórico-metodológico que busca pensar o papel intelectual como li- near. As contradições são próprias do movimento social, parte inerente de qualquer análise. A isso não escapam os homens de ideias, pesar o papel dos bacharéis implica reconhecer isso e explorar essa zona desconfortável. O fin-de-siècle do XIX é, também, período de grandes debates sobre codificação (Código Civil, Código Penal, Constituição de 1890, reorga- nização no mundo do trabalho). Essa circunstância, aliada à expansão das novas ciências e saberes da conjuntura, deu especial força ao processo de criação desse periodismo. Além disso, tem sido observado que, assim como em outros países, a constituição de um governo republicano produz um ambiente propício ao desenvolvimento da imprensa (de modo geral) e da imprensa especializada, especificamente. Essas conjunturas esgarçam o campo político abrindo espaço para empreitadas intelectuais. “O reordena- mento de concepções que a mudança de regime acarreta leva a tentativas de adequação das leis e instituições à nova situação política, bem como a questionamentos dos modos de pensar o direito” (SILVEIRA, 2014, p. 102). Do ponto de vista do reordenamento institucional e normativo, os “bacharéis” e juristas são convocados a se pronunciar, a agir publicamente como intelectuais. Primeiro, é preciso estabelecer que, ao trabalhar com juristas e ba- charéis (por vezes, bacharelandos) escrevendo e publicando nas revistas acadêmicas, fica impossível não os reconhecer como intelectuais. A pro- blemática do papel dos intelectuais deve ser enfrentada. Desde Gramsci (2001), estudos acadêmicos trabalham a ideia de que intelectuais devem ser politizados, ativos, orgânicos, estabelecendo trocas com a sociedade em que vivem. O conceito de intelectual orgânico se afasta da noção de intelectual do senso comum. Segundo Gramsci, “todo grupo social (...) cria para si (...) uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homo-

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