Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020

124 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS nais ou tradições mais ou menos consolidadas. Novamente, os dados sobre circulação regional e formação acadêmica demonstram isso. Na RAFDR, 94% dos editores eram de formação na casa, enquanto São Paulo formou 89%. Nas então novas faculdades, o padrão do corpo editorial segue o do corpo geral de autores, mencionado anteriormente: na RFLDMG, ampla prevalência de formados no Largo de São Francisco (76%), na Bahia, 71% formados ou pela própria faculdade ou por Recife. Vale destacar também a participação de médicos formados pela Faculdade de Medicina da Bahia no corpo editorial. Na RFLDRJ, dos 13 editores, 6 eram da Faculdade de Direito do Recife, 4 de São Paulo. O Direito é um campo do conhecimento e prática social, por isso não se pode afirmar que essas revistas se enquadram exclusivamente na clas- sificação de periódico científico (nem mesmo as acadêmicas). Seu acesso amplo também era utilizado para fins práticos (um uso público, um efeito de ação pública). Como campo muito afetado pela necessidade retórica, essas revistas eram fonte de argumentação da jurisprudência e outras de- cisões oficiais, embasando juízes, promotores e advogados, ávidos por de- monstrar erudição e incluir as ideias mais atuais em seus ofícios, defesas e decisões. O efeito de autorização que a fala do jurista reconhecido tem não deve ser distanciado do efeito afirmativo do intelectual como ator de transformação cultural. Diversos trabalhos têm abordado o papel público, político, cultural e social desempenhado pelos “bacharéis” e o caráter “bacharelesco” do conhe- cimento jurídico na virada do século XIX para o XX 10 . É um tema que há certo tempo provoca as ciências sociais brasileiras. Por um lado, são vistos como componentes do estrato de atores políticos e sociais que operam no diapasão da defesa da ordem, da estabilização das relações sociais, da coo- peração institucional, com uma função de suporte intelectual à autoridade e aos aparelhos de Estado (SILVEIRA, 2013, p. 34). Por outro, compõe tam- 10 Além do já mencionado ADORNO, Sérgio. Os Aprendizes do Poder: O bacharelismo liberal na política brasi- leira . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. VENÂNCIO FILHO, Alberto. Das Arcadas ao bacharelismo (150 anos de Ensino Jurídico no Brasil) . 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1982; HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

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