Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020
123 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS vemos uma importante liderança direta dos membros das comissões edito- riais na produção das respectivas revistas. Os membros das comissões edi- toriais dos volumes analisados na RAFDR, sob incontestável liderança de Clóvis Beviláqua (editor de 14 dos 31 volumes), publicaram em conjunto 54% dos artigos. Beviláqua, sozinho, publica quase um décimo dos arti- gos. No Largo de São Francisco, aproximadamente 73% dos artigos são de autoria de membros das Comissões de Redação. Essa tendência se repete: 41% na RFLDRJ, 47,7% na RFLDMG, 50% na RFLDBA. Além disso, como ocorre com Beviláqua, os membros mais recorrentes nas respectivas comissões aparecem também com mais frequência na produção da revista. Em São Paulo: Pedro Lessa (26 artigos), João Mendes de Almeida Jr. (28), João Braz de Oliveira Arruda (42), Braz de Souza Arruda (46). Em Minas Gerais e Bahia, respectivamente, Edmundo Pereira Lins (10% dos artigos) e João Rodrigues Doria (11%). Na RFLDRJ, Lacerda de Almeida, Augusto Olympio Viveiros de Castro e Cândido de Oliveira escreveram 15, 8 e 8 artigos cada, 31% de toda a produção da revista. Essa concentração, maior ou menor a depender do caso, mostra como, na dinâmica de circulação e apropriação de ideias do periodismo, deve-se levar em conta as linhas específicas que determinado periódico vai assumir, mesmo que implicitamente. Olhar as lideranças editoriais é um bom índice. Além disso, típico dos periódicos especializados surgidos no fim do século XIX, eles vão ser a materialização da liderança de um determinado grupo de intelectuais sobre um campo 9 (ou um nicho desse), mesmo que apenas regionalmente. Esse é um dado que deve ser considerado ao tratar desse tipo de fonte ou objeto, porque é um índice que pode ajudar a interpretar as apropriações específicas de conceitos e ideias por um determinado grupo de intelectuais, provocando diferenciação dentro de um mesmo campo. No caso do periodismo jurídico brasileiro, isso ocorre mesmo nes- ses periódicos “oficiais”, seja porque eles também representam elites regio- 9 Por exemplo: Archives d’anthropologie Criminelle (1886-1914), liderado por Alexandre Lacassagne; Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswissenschaft (1881-), editado pelo grupo intelectual liderado por Franz von Liszt até 1919; La Scuola Positiva (1891-1956), órgão de divulgação do positivismo criminal, editada por Enrico Ferri, com colaboração de Cesare Lombroso e Raffaele Garofalo.
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