Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020
122 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS às vezes mais que instrumento de divulgação e circulação livre de ideias. Silveira ressalta que essa postura “endógena”, voltada para si, pode ser inter- pretada mais como solidez e motivo da vitalidade do que como fracasso no papel de diálogo com o público de uma revista. A afirmação dentro do cam- po do Direito, lembra Bourdieu, apesar da constante altercação interna - é inevitável observar - enseja forte coesão do campo (BOURDIEU, 1998a), projetado para fora. Nesse sentido, o periodismo jurídico surge aqui, não só como instrumento propagador de um tipo de saber especializado de um determinado campo, mas também como ferramenta política de cooptação e sedução para as diversas correntes jurídicas em disputa. Por essas características, as revistas assumem uma posição de fontes -objeto. Mais que meros repositórios de informação, as revistas jurídicas são lugares em que, nas suas respectivas temporalidades, faz-se e pensa-se a história (SILVEIRA, 2013, p. 22). Não se trata de apenas extrair seletiva- mente textos de interesse específico, mas adotar uma compreensão contex- tualizada do próprio local de inserção dos periódicos, fazendo deles fonte e objeto a um só tempo. O papel das revistas acadêmicas como ação política de intelectuais em movimento só pode ser compreendido se cotejadas as maneiras de pensar o Direito, os debates sobre os rumos do regime político, as reformulações legais, os conflitos teóricos e a circulação de ideias, com as trajetórias dos intelectuais que deram a direção desses periódicos. Só assim se revelam seus engajamentos políticos e teóricos. As revistas especializadas “não se constituíam como periódicos científicos propriamente ditos, guardavam certas características e desempenhavam, sem dúvida, muitas das funções [...] como a acumulação do saber, divulgação bibliográfica, inserção em re- des internacionais” (SILVEIRA, 2014, p. 114) e reforço na sociabilidade. As comissões de redação e conselhos editoriais, novamente, são um espaço importante para avaliar como o caráter, por um lado, de vetor para a circulação de ideias se relaciona com o papel que tem o periodismo na reprodução intelectual e na força que um campo pode exercer em sentido da convergência ideológica de seus membros. Em nosso estudo de caso,
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz