Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020
119 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS telectuais. Sarlo acertadamente afirma que o tecido discursivo das revistas é o espaço por excelência de experimentações estéticas e posicionamentos ideológicos. Jean-François Sirinelli aponta que, no meio intelectual no fim do século XIX, os laços intelectuais se atam, muitas vezes precisamente em torno da redação de uma revista, do seu conselho editorial ou de uma editora (Ibid., p. 249). É uma afirmação muito próxima da interpretação, já referida, de Beatriz Sarlo e um fecho adequado às reflexões desenvolvidas até aqui. As estruturas expressas nesses espaços (a revista, o conselho edi- torial, a editora), as redes de sociabilidade são constituídas por um campo por meio do qual forças antagônicas de adesão e exclusão se expressam. Adesão pelas relações de amizade, afinidades eletivas, relações de favor, pertencimentos de classe, espaços de influência, radicalidades de ocasião. Exclusão pelos limites e dificuldades objetivas de acesso, cisões e cismas, rupturas afetivas, divergência de ideias, tomadas de partido. Assim, analiticamente, como instrumento de batalha cultural, revis- tas podem ser observadas tanto pelos problemas que seus corpos editoriais elegeram centrais, como pelos temas que, propositalmente ou não, foram excluídos (SARLO, 1992, p. 15). Essa é uma das razões da publicação de um periódico, perspicazmente reconhecida pelos editores do primeiro vo- lume da RAFDR. No seu editorial, eles reforçam o propósito da revista de ser um espaço de alargamento de ideias, de discussão eminentemente “jurídico-social”. Na sua visão, o Direito é um campo do conhecimento não só intimamente relacionado com as muitas ciências (com os saberes inter- disciplinares), mas dependente (RAFDR, 1891, p. 8) desses outros campos do conhecimento para que possa veicular as “ideias verdadeiras”. Há uma percepção de produção coletiva do conhecimento, ao menos no discurso. O “rejuvenescimento e consolidação das ideias, como pelo efeito das variações e dos contrastes” (Idem), é conseguido explorando seu movimento. Chama a atenção que o editorial encerre com um chamado à juventude (contido na metáfora do “rejuvenescimento”), ou melhor, para o compromisso dos editores com cativar a mocidade, não lhe conter o espírito.
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