Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020

115 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS ferentes países em tais encontros ser provavelmente de grande importância para uma acolhida crítica desse paradigma em nível local, não é suficiente para compreender sua consolidação” (OLMO, 2004, p. 265). O periodismo especializado atua como um elemento de difusão e consolidação local de ideias e conceitos e pode ser usado para ter uma visão mais local de fenô- menos gerais. Ele ecoa e se apropria dos temas da moda discutidos nos cen- tros hegemônicos, tornando-se uma fonte importante para avaliar o caráter desse acolhimento (se crítico ou não) e sua tradução a temas e problemas mais nacionais. A figura do especialista local faz eco e se apropria da pro- dução “científica” da moda. Por conta disso, a noção de apropriação e circulação de ideias é funda- mental. O conceito de apropriação “torna possível avaliar as diferenças da partilha cultural na invenção criativa que se encontra no âmago do processo de recepção” (CHARTIER, 2006, p. 233). Uma abordagem nos moldes dessa ideia nos permite precisamente historicizar o processo de circulação intelectual, afinal, constitui um ato de investigação histórica e sociológica perceber que certas ideias têm usos diferenciados, considerando os critérios históricos, sociais, espaciais e afetivos presentes na circularidade de ideias. Isso significa que não devemos pensar os juristas e bacharéis em seus pro- jetos intelectuais no periodismo jurídico como sujeitos históricos desliga- dos das relações de força que os conectam à sociedade, estando inseridos, portanto, numa determinada classe e num determinado campo político e de sociabilidade. Assim, no âmbito de sua circulação ao público, Sarlo aponta que as revistas têm duas geografias culturais observáveis: o espaço intelectual con- creto onde circulam (o campo acadêmico, por exemplo, e seus recortes re- gionais) e o “espaço-bricolagem” onde se localizam idealmente. A geografia de uma revista é “uma via régia até o seu imaginário cultural” (SARLO, 1992, p. 12). É nessa construção que a política de traduções, as citações, as divulgações de autores nacionais e estrangeiros ganham sua importância. Esses dados são índices do modo como determinado coletivo intelectual pensa sua intervenção político-cultural, como proposta de reorganização de

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