Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020
114 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS e tratar esse tipo de material analítico empírico) a respeito da produção intelectual e do papel do periodismo na formação do campo do Direito em duas frentes: produção e construção coletiva do conhecimento; seu papel na circulação e apropriação de ideias vis-à-vis a constituição de certa con- vergência ideológica. A primeira explora o papel de divulgação e apropriação de ideias e conceitos em circulação no mundo intelectual, criando um ambiente inte- lectual mais arejado e aberto a inovações. A segunda reflete sobre a impor- tância de se pensar as redes de sociabilidade envolvidas e a direção intelec- tual de um periódico. Vamos argumentar que esses dados revelam a função de estabelecer uma uniformização do conhecimento, assim como permitem analisar as disputas por hegemonia intelectual dentro de um mesmo campo. 2. PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE CONHECIMENTO Revistas são “instituições” de construção de conhecimento. Elas são a evidência tangível da existência de coisas como “escolas” ou “movimen- tos” (KALUSZYNSKI, 2006, p. 304). Seus textos são documentos histó- ricos, materiais empíricos, importantes para analisar e entender o desen- volvimento (interno e externo) de um movimento intelectual. São espaços privilegiados para observar as disputas entre ideias e escolas durante a for- mação e estabelecimento de um corpo de conhecimento emergente. Isto é, são espaços comunicativos onde se pode observar transferências conceituais (que não se limitam apenas às fronteiras de estados-nações), importações históricas, apropriações, inovações e traduções em relação a conceitos e ideias de uma época (MARJANEN, 2009, p. 240). Sob essa ótica, o perio- dismo jurídico acadêmico brasileiro, na forma das revistas citadas, é fonte privilegiada para investigar em que medida a cultura jurídica no país, por exemplo, reproduziu (ou não) os termos de debates estrangeiros, ao passo em que produz seu próprio corpo de conhecimento. Na estrutura das instituições de circulação de conhecimento da época, uma das mais importantes plataformas de difusão foram os encontros in- ternacionais. Contudo, apesar de a “participação dos representantes dos di-
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