Direito em Movimento - Volume 18 - Número 2 - 2º semestre/2020
111 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 2, p. 108-135, 2º sem. 2020 ARTIGOS e debater ideias). Publicar uma revista é, assim, fazer política cultural, rasgar a conjuntura com um discurso estético ou ideológico (SARLO, 1992, p. 9). Essa “sintaxe das revistas leva as marcas da conjuntura em que seu atual passado era presente” (Ibid., p. 10). Esse momento presente é funda- mental porque as revistas pretendem agir sobre ele, intervir, modificá-lo. Deve-se ressaltar que, por força de sua sintaxe própria, os textos de uma revista ganham outra conotação se considerados individualmente, ficando, de certo modo, alijados de seu tempo. Ou seja, se, por um lado, uma história da literatura pode ser pensada como história das leituras, [por outro,] as revistas estão ali mostrando de que ma- neira em ocasiões demasiado evidentes, como foram lidos os textos, quais foram os limites ideológicos e estéticos que os fize- ram visíveis ou invisíveis, quais os fundamentos conjunturais (e porque não dizer históricos) do seu julgamento, aqueles que se equivocaram em suas predições e aqueles que, desde o presente, puderam antecipar o futuro (Ibid., p. 11. Grifo nosso). A abertura historiográfica proporcionada pela Escola dos Annales abriu novos campos aos historiadores, sociólogos e demais cientistas sociais. Desde então, a imprensa, vista como um ator político de extrema importância para as sociedades modernas, passou a ser tratada também como fonte 2 . Sob essa perspectiva, como fontes, as revistas conservam as provas de como se pensava o futuro desde o presente, já que o periodismo se constrói de maneira ao mesmo tempo sincrônica, conjuntural, e em construção de hipóteses sobre o futuro. Nesse contexto, o periodismo segmentado também passa a ser observado como objeto. Seu surgimento nas áreas das ciências jurídicas e da medicina segue um propósito de propagação e reprodução de ideias, bem como de afirmação dos determinados campos do saber e suas estratégias de diferenciação 3 . 2 Na história brasileira, é a partir do Primeiro Reinado que a imprensa se torna um ator social central, divul- gando e discutindo publicamente os caminhos da política no Império. É o veículo através do qual os diversos campos de poder se afirmam, constroem seu discurso e interferem politicamente. Com o surgimento na im- prensa periódica, surge também um novo ator histórico: “homem público”, investido de ação politica, ou seja, intelectuais “formadores” e propagadores de opinião (MOREL; BARROS, 2003, p. 7). 3 Sobre o processo de diferenciação, ver BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia
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