Direito em Movimento - Volume 18 - Número 1 - 1º semestre/2020
Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 1, p. 159-174, 1º sem. 2020 168 CASO JUDICIAL CÉLEBRE a respeito das desigualdades raciais foram empregados para justificar a in- ferioridade negra. Numa perspectiva mais genérica, qualquer negro é dire- tamente ligado à África, sendo considerado “evoluído” apenas a partir da miscigenação com brancos ou pelo contado com estes. Achille Mbembe, filósofo camaronês, em sua obra “ A crítica da Razão Negra ” (2014, p. 56- 58), relatou depoimento de pesquisadores que afirmaram que os negros americanos eram mais evoluídos do que os africanos porque tiveram mais contato com os brancos. No Brasil, isso se visualiza na prática no sistema judicial penal, que possui um método de encarceramento dotado de especificidades, uma es- pécie de “etnoencarceramento”. Neste sentido, afirma Michelle Alexander, professora da Universidade de Stanford: A criminalização e demonização do homem negro virou a co- munidade negra contra ele, desmantelando suas relações fami- liares e comunitárias, dizimando as suas conexões de sustenta- ção e intensificando a vergonha e a experiência de ser odiado por sua própria casta” (ALEXANDER, 2018, p. 55). Em trabalho recente do professor Gerorge Bisharat, da Universidade da Califórnia, publicado no Brasil em forma de artigo científico na Revista Juris Poiesis , vem a ser discutida a persistência da desigualdade racial no sistema de Justiça norte-americano e as possíveis explicações para esse fe- nômeno. Interessa-nos demonstrar aqui , por meio de dados empíricos, que essa realidade é uma verdade a ser desnudada e combatida ainda nos dias de hoje, pois, segundo George, em sua pesquisa de campo, das 25 audiências de custódia (primeira audiência de réu preso) assistidas por ele no Tribunal de São Francisco, todos os réus eram afro-americanos, veja: A evidência é irrefutável de que pessoas de cor sofreram as consequências da aplicação da justiça criminal de uma forma desproporcional. Por exemplo, em 2011, o Departamento de Polícia de Nova Iorque abordou e revistou pessoas 685.724 vezes: 350.743 pessoas eram negras, 223.740 eram latinas
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