Direito em Movimento - Volume 18 - Número 1 - 1º semestre/2020

125 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 1, p. 111-128, 1º sem. 2020 ARTIGOS 3 - CONCLUSÃO As heresias da Santíssima Trindade conheceram ainda uma sobrevida após suas perseguições pelo Império. A heresia ariana foi a crença na qual foram catequizados os visigodos d’além Danúbio por seu bispo Ulfila, no século IV, o qual chegou a elaborar uma tradução das escrituras para sua língua. Os visigodos, em seguida, se instalaram no Império e permanece- ram arianos até o final do século VI, quando finalmente abraçaram o credo niceno no Concílio de Toledo III, em 589, com seu rei Recaredo. Os suevos, ao Noroeste da Península ibérica, já haviam se tornado católicos antes, re- sultado da pregação de Martinho de Dume. O arianismo ainda durou mais um século com os lombardos na Itália. No Oriente, no século V, porém, nova controvérsia sobre a Santíssima Trindade surgiria, em torno das duas naturezas de Cristo, notadamente o mis- tério da encarnação.De fato,Nestório, bispo de Constantinopla, negava a Nos- sa Senhora a condição de “ theotokos ”, ou seja, mãe de Deus, o que provocou a ira de seus seguidores. Entre eles, Eutiques e Basílio, este bispo de Alexandria, entendia que em Cristo haveria uma só natureza encarnada, o monofisismo. Além do nestorianismo e do monofisismo, surgiria ainda o monotelismo no século VII, em torno da crença de que Cristo teria uma só “vontade”. As heresias da Santíssima Trindade, entretanto, obrigaram a Igreja a definir e construir sua teologia. A letra crua dos evangelhos não esclarecia o mistério em torno da relação entre o Pai e o Filho. E a questão ariana foi também determinante para separar o cristianismo do judaísmo, pois reforçou a divindade do Filho e fixou a natureza da relação entre Pai e Fi- lho. Afastou, pois, ideias que comprometeriam a coerência do cristianismo e atentavam contra o seu principal predicado, que é a crença de que Deus se fez homem e desceu à Terra numa pessoa humana, a fim de propagar sua mensagem salvífica. Nesse sentido, a querela das heresias certamente contribuiu para a posterior expansão do cristianismo pelo mundo nos sé- culos seguintes, fomentando, no seu seio, o desenvolvimento planetário das civilizações ocidental e ortodoxa.

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