Direito em Movimento - Volume 18 - Número 1 - 1º semestre/2020
122 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 18 - n. 1, p. 111-128, 1º sem. 2020 ARTIGOS a Igreja oriental de arianismo. Lembre-se de que, do ponto de vista doutri- nário, o credo de Nicéia ainda era a lei em vigor. Em contrapartida, no mesmo ano de 341, a Igreja oriental convo- cou um concílio em Antioquia e fixou a sua própria profissão de fé. Os orientais assim apelaram para Constante, imperador do Ocidente, para uniformizar a questão em torno do seu credo; os ocidentais, de seu lado, instaram Constante a pressionar Constâncio, imperador do Oriente, para impor sua própria crença. Em 343, os imperadores decidiram reu- nir novo concílio em Sérdica (Sofia), cidade limítrofe às duas partes do Império. A questão teológica se revelou inconciliável, mas quanto à parte eclesiástica, os orientais admitiram revisar as deposições de todos os bis- pos exilados, à exceção de Atanásio. Ambas as partes se excomungaram reciprocamente, e a reunião de nada serviu. Os imperadores, contudo, amenizaram a situação, e Constante conseguiu convencer Constâncio a repor Atanásio na sede de Alexandria. A Igreja se revelava cada vez mais submissa aos interesses do imperador, prenunciando o que viria a se denominar “cesaropapismo”. No ano de 361, todavia, subia à púrpura o último imperador da família de Constantino, Juliano, o Apóstata, de formação helenística e simpatizan- te de um “neopanteísmo” pagão 36 . Para enfraquecer o cristianismo, anistiou todos os que haviam sido exilados pelos arianos, o que acabou facilitando as coisas para o clero niceno. Atanásio pôde então voltar do deserto, onde ti- nha se refugiado, e retomar a diocese de Alexandria. Ele propôs aos arianos o seu apoio, desde que renunciassem ao seu credo; mas logo teve novamente de fugir da cidade em decorrência de nova perseguição imperial. Juliano, porém, faleceu em 363, numa campanha contra os persas, e o trono foi ocu- pado pelo cristão Joviano. Todos correram a ele atrás de apoio, e Atanásio mais uma vez voltou a Alexandria. 36 A educação religiosa de Juliano quando jovem foi confiada ao ariano Eusébio de Nicomédia e ele se mante- ve cristão até, pelo menos, a idade de 20 anos. Contudo, maior influência na sua educação teve seu preceptor, o eunuco Mardônio, que o ensinou o gosto pela genialidade e a religião de Homero. De qualquer forma, seu testemunho das desavenças entre arianos e nicenos, certamente, contribuiu pelo seu desprezo pelo cristianismo (passim GIBBON, Edward, op. cit. pp. 757/758).
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