Direito em Movimento - Volume 17 - Número 1 - 1º semestre/2019

110 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 17 - n. 1, p. 90-141, 1º sem. 2019 ARTIGOS disciplinar, tendo por substrato a congruência entre demasiados grupos de estratégias adotadas pelo Estado para administrar seu território e anexar a geografia cotidiana com a história. Podemos considerar as cidades como verdadeiros laboratórios, onde é possível coletar dados e informações sobre as condições de vida dos indiví- duos, evidenciando que o crime é também um produto social do urbanismo, o que representou um novo viés a ser confrontado, já que as causas da cri- minalidade sempre foram explicadas por diferenças individuais, biológicas e psicológicas. A Escola de Chicago foi responsável por apresentar a ideia de crime como um fenômeno social - em contraposição à teoria clássica, ao positi- vismo biológico e ao positivismo psicológico. Estudos sobre a interação da vida nos bairros pobres, métodos inovadores de pesquisa sociológica, como, por exemplo, história de vida, observação participante, o conceito de desorganização social e o compromisso com o desenvolvimento de políticas sociais em relação ao crime e à delinquência, são contribuições da Escola de Chicago que têm influenciado uma série de estudos urbanos empíricos e também perspectivas criminológicas. Exemplo emblemático de cidade recheada de peculiaridades, especial- mente quanto ao seu espaço, é o Rio de Janeiro, que possui muitos morros e vem apresentando um aumento no número de favelas, o que evidencia o aumento da distância social entre as classes que as habitam. O grupo dos residentes em favelas, a despeito de toda ordem de problemas que viven- ciam, o que envolve infraestrutura precária e ausência dos serviços públicos, está melhor situado na estrutura urbana do que as populações chamadas “de rua”, tais como os sem-teto e mendigos. Os mais favorecidos se isolam dos demais através de uma fragmentação do espaço social. Essa polarização aumenta a distância social entre os dois grupos e, como adverte o crimino- logista Nils Christie 18 , é a distância social que aumenta a tendência de que 18 Nils Christie é um sociólogo norueguês, professor de Criminologia na Faculdade de Direito de Oslo.

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