Direito em Movimento - Volume 16 - Número 2 - 2º semestre/2018

270 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 2, p. 267-274, 2º sem. 2018 CASO JUDICIAL CÉLEBRE e religioso; achava-se em comunicação direta com Deus, era joguete de demônios, via “aparições miraculosas”, ouvia “mú- sica sagrada”, e, no final, chegou mesmo a acreditar que estava vivendo em outro mundo. (FREUD, 2002, p. 15) - Grifei Schreber, eu sua autobiografia, relatou, ao final, que sua emasculação era uma determinação divina para remissão do mundo. Ele se achava o escolhido dentre todas as pessoas para propagação de uma nova espécie. Afora as questões psicanalíticas, uma que parece ser digna de nota é aquela que se refere ao histórico familiar de Schreber. Ele é a quarta geração de homens que escreveram livros e influenciaram a Alemanha de sua época. Clarissa Lago 2 nos traz o seguinte dado: Os ancestrais masculinos de Schreber publicaram obras sobre direito, economia, pedagogia e ciências naturais, via de regra es- critas com os objetivos de elevar a moralidade dos povos e de conquistar o bem da humanidade. Segundo Mattos (2000), os livros de Daniel Gottfried Schreber (o bisavô) trazem por lema a frase “Escrevemos para a posteridade”. Por sua vez, Daniel Gottlob Moritz Schreber (o pai) publicou cerca de vinte livros sobre ginástica, ortopedia, higiene e educação das crianças. Ou seja, Schreber (filho) deveria também escrever para as gerações futuras, ainda que fossem suas “memórias de um doente dos nervos” no qual é o seu próprio corpo que protagoniza a história (MATTOS, 2000, apud LAGO). Havia um “complexo paterno, elemento dominante no caso Schreber, e com a fantasia de desejos em torno da qual a doença se centra- lizou” (FREUD, 2000, p. 73). No entanto, Freud (2000, p. 73) continua: “Tenderíamos a dizer que caracteristicamente paranoico na doença foi o fato de o paciente, para re- pelir uma fantasia de desejo homossexual, ter reagido precisamente com delírios de perseguição desta espécie.”. Serão, então, abordadas as caracte- 2 Op. Cit.

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