Direito em Movimento - Volume 16 - Número 2 - 2º semestre/2018

171 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 2, p. 149-181, 2º sem. 2018 ARTIGOS políticos de Barreto e por suas ideias jurídicas, ele representava a antítese disto: o liberalismo radical, o anticlericalismo e o antitomismo. Esta tentativa de apropriação das ideias de Barreto na Faculdade de São Paulo remonta à releitura proposta por Miguel Reale e seu grupo em torno ao Instituto Brasileiro de Filosofia, no imediato Pós-Guerra. Em sua apropriação do pensamento de Barreto, Reale tentou mitigar os traços radi- cais do liberalismo anticlerical e laico do intelectual sergipano. Tal releitura ia ao encontro do humanismo católico-tomista, muito em voga nos círcu- los católicos da época, 69 e inspirado nas ideias de Jacques Maritain (1882- 1973). Além do que, Reale, integralista convicto na juventude, 70 fizera sua formação na Escola de Direito do Largo de São Francisco. É na crítica a esta reapropriação e domesticação do radicalismo contido no pensamento do jurista Tobias Barreto que este trabalho se coloca, restaurando, a partir da análise de sua recepção de autores de língua alemã, sua devida contribui- ção à tradição científica no direito brasileiro, baseada em conceitos filosófi- cos e na reflexão sociológica. Sempre que um jurista brasileiro fizer referência a algum termo ju- rídico de difícil pronúncia em alemão, deve-se ter em mente o significado histórico inovador e rebelde que teve a recepção, no século XIX, realizada por Tobias Barreto de Menezes do pensamento de língua alemã no direito brasileiro, por mais que hoje as coisas tenham mudado e o recurso ao pen- samento jurídico de língua alemã não represente mais rebeldia, mas tenha sido absorvido pelo mainstream como signo de prestígio e distinção. Na época, Barreto inaugurava uma tradição liberal radical no direito brasileiro, a romper com a retórica vazia, a influência da religiosidade e a tradição autoritária na cultura política brasileira. 69 VILLAÇA, 1975, p. 14. 70 BERTONHA, João Fábio. “Corporativist Thinking in Miguel Reale: Readings of Italian Fascism in Brazilian In- tegralism”. In: Revista Brasileira de História . São Paulo, v. 33, no. 66, 2013, p. 225-242. Disponível em: https:// joaofabiobertonha.files.wordpress.com/2017/02/miguel-realeenglish.pdf. Acesso em: 01 ago. 2018.

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