Direito em Movimento - Volume 16 - Número 2 - 2º semestre/2018
165 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 2, p. 149-181, 2º sem. 2018 ARTIGOS dadeira imersão nas ideias de língua alemã. A novidade desencadearia mu- danças profundas na história do direito brasileiro e no pensamento social e político como um todo. Naquela conjuntura de fins do século, a cultura jurí- dica dava seus primeiros passos no sentido da construção de uma disciplina de bases científicas. A recepção de autores de língua alemã por Barreto foi fundamental neste sentido. Dentre as principais leituras de Barreto estiveram Jhering e Haeckel, seus verdadeiros heróis na batalha contra a metafísica escolástico-tomista, o jusnaturalismo, a retórica na formação jurídica e o apego às fontes ro- manas, estas muito em evidência a partir da Escola Histórica de Friedrich Carl von Savigny (1779-1861), lido através de traduções do francês. 51 O tema da mediação cultural francesa foi tomada por Barreto como um sin- toma dessa cultura jurídica retórica e bacharelesca, que ele passa a com- bater em seus escritos. Nos seus embates com setores religiosos na mídia impressa, em especial aqueles católico-tomistas, Barreto se apropriará dos dois acadêmicos mencionados de forma autônoma, para defender suas posições liberais e anticlericais num contexto de crise política da monar- quia e do regime escravocrata. As abordagens sistemáticas em teoria da evolução a partir de Haeckel, bem como a filosofia jurídica finalística de Jhering serviram de modelo para a absorção de novas fontes na cultura científica que se desenvolveu no Brasil a partir de então. Por meio de sua recepção inovadora, o sergipano contrapunha-se a tudo aquilo que repre- sentava o establishment da cultura jurídica no XIX: romantismo, ecletis- mo, lei natural, tomismo e positivismo (comteano), este último absorvido com entusiasmo por partes das elites políticas e do campo republicano, sobretudo a partir das escolas militares. 52 51 Ver NEDER e CERQUEIRA FILHO, 2007, p. 119-120 e BORRMANN, Ricardo G. “Cultura Política Germâni- ca, Relações de Força e Recepção no Brasil a partir do Pensamento de Rudolf von Jhering, Ernst Haeckel e Hans Kelsen (1879-1939)”. In: Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica. Vol. 3 – No. 3 – Setembro a Dezembro (2011), p. 398-414. Disponível em: http://www.historia.uff.br/revistapassagens/artigos/ v3n3a32011.pdf. Acesso em: 01 ago. 2018. 52 Sobre o positivismo no Brasil, ver LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil . 2a ed. São Paulo: Companhia Edito- ra Nacional, 1967 e PAIM, Antonio. “Introdução”. In: Idem (seleção e introdução). O Apostolado Positivista e a Repú- blica . Biblioteca do Pensamento Político Republicano. Vol. 2. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981, p. 3-9.
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