Direito em Movimento - Volume 16 - Número 2 - 2º semestre/2018
159 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 2, p. 149-181, 2º sem. 2018 ARTIGOS Deve-se destacar ainda uma particularidade da recepção realizada por Barreto no que concerne às fontes de leitura: ele foi o primeiro a ler autores de língua alemã sem a mediação cultural francesa. Essa particularidade, en- tretanto, não constituiu uma tendência de caráter nacional, ficando restrita à esfera regional e local, em particular ao trabalho de Barreto. O movimen- to do Recife esteve intimamente vinculado à formação na Faculdade de Di- reito, pois posicionou-se criticamente quanto à tradição de ensino praticada ali, ligada aos velhos hábitos retóricos e bacharelescos. 28 Tobias Barreto e Sílvio Romero são considerados os pais intelectuais do movimento que se iniciou no Recife, tradição inventada 29 sem dúvi- da, como de resto todas são, mas que de fato promoveria uma renovação na cultura brasileira 30 , particularmente no campo jurídico, mas não apenas restrita a este. Além disso, tanto Barreto como Romero fizeram parte da assim chamada “Geração luso-brasileira de 1870”, completada por escrito- res portugueses como Eça de Queiroz (1845-1900) e Antero de Quental (1842-1891). 31 Como se deve, então, caracterizar a assim chamada “herança ibérica” nas letras brasileiras e como ela se fez presente na vida político-intelectual do Brasil? 28 VENANCIO FILHO, Alberto. “A Escola do Recife”. In: Idem, 2011, p. 95-112. 29 Ver ANDERSON, Benedict. Imaginated Communities. Reflections on the Origin and Spread of Nationalism . Revised Edition. London et. all. : Verso, 2002. Para uma análise referida à América Latina, ver a seguinte coletâ- nea: CERQUEIRA FILHO, 2011. 30 “ (…) coube à Geração de 1870 a introdução do Brasil na ‘modernidade cultural’, na medida em que se propunha o rompimento com o pensamento religioso em prol de uma visão laica do mundo. Com efeito, a partir desse momento toma força um movimento de contestação à teoria do direito natural (…) A recepção dessas teorias científicas deterministas significava a entrada de um discurso secular e temporal que, no contexto brasileiro, transformava-se em instrumento de combate a uma série de instituições assentadas.” (SCHWARCZ, 1993, p. 197). 31 A este respeito consultar RODRIGUES-MOURA, Enrique. “Territorio, Moral y Nación en los pulpitres de la Escuela. Olavo Bilac y Manoel Bomfim”. In: ARBOR Ciencia, Pensamiento y Cultura 183: 724 (marzo-abril, 2007), p. 227-241. Disponível em: http://arbor.revistas.csic.es/index.php/arbor/article/viewArticle/94. Acesso em: 8 out. 2016.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NTgyODMz