Direito em Movimento - Volume 16 - Número 2 - 2º semestre/2018
158 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 2, p. 149-181, 2º sem. 2018 ARTIGOS IV. Relações entre herança ibérica e cultura ju- rídica Foi a partir do último quarto do século XIX que autores de língua alemã receberam uma recepção mais sistemática na história intelectual bra- sileira. Ou seja, foi somente a partir de então que passaram a integrar de forma consistente o repertório intelectual e jurídico brasileiro. Este movi- mento deveu-se, em grande medida, à atuação de intelectuais do Nordeste, especialmente àqueles ligados à “Escola do Recife”, em particular a Tobias Barreto e Sílvio Romero. Este movimento partiu, portanto, do Recife e a partir daí ganhou contornos nacionais, influenciando a cultura jurídica brasileira como um todo. 25 Isto não quer dizer que autores ou pensadores de língua alemã não fossem lidos antes disso. Os viajantes e pesquisadores naturalistas Carl Friedrich von Martius (1798-1868) e Johann Baptist von Spix (1781-1826), por exemplo, ter-se-iam surpreendido ao constatarem que um filósofo do porte de Immanuel Kant (1724-1804) já era conheci- do no Brasil nas primeiras décadas do século XIX, embora fundamental- mente a partir do comentador francês Charles François de Villers (1765- 1815). 26 Assim, o fenômeno da mediação cultural francesa não lhes passou despercebido. Não obstante, foi somente a partir de Tobias Barreto, desde Pernambuco, que houve uma recepção mais sistemática do pensamento de língua alemã, quase a título de programa intelectual. 27 Esta recepção fez-se notar primeiramente na cultura jurídica, devido à influência da formação em direito nos intelectuais da “Escola do Recife” e na tradição intelectual do Brasil de um modo geral. 25 Ver ROMERO, Sylvio. Zéverissimações ineptas da critica (repulsas e desabafos). 1a série, 48. Porto: Officinas do ‘Commercio do Porto’, 1909, p. 41. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/. Ver ainda NEDER, 2007, p. 143-144. 26 REALE, Miguel. “A Doutrina de Kant no Brasil”. In: CRIPPA, 1978, p. 225-238; COSTA, João Cruz. “Tobi- as Barreto, Ein Verkünder des ‘Germanismus’ in Brasilien”. In: SCHADEN, Egon e FOUQUET, Carlos (Org.). Staden-Jahrbuch – Beiträge zur Brasilkunde . São Paulo: Instituto Hans Staden, Bd. 5, 1957, p. 127-135 e VILLAÇA, 1975, p. 44. 27 Romero chamou a recepção realizada por Barreto de “propaganda de ideias” (ROMÉRO, Sylvio. Evolução da litteratura brasileira (Vista synthetica) . s/l.: Campanha, 1905, p. 41. Disponível em: http://www.brasiliana. usp.br/ ).
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