Direito em Movimento - Volume 16 - Número 2 - 2º semestre/2018
157 Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 2, p. 149-181, 2º sem. 2018 ARTIGOS tica-tomista praticada pelos seminaristas em suas escolas, muito influente na formação adquirida na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco em São Paulo, nas primeiras décadas do século XX. 21 O que se considera aqui como uma perspectiva distinta da acima ex- posta, referida à história cultural? Os temas centrais a serem abordados dentro deste marco teórico são os da recepção e apropriação de ideias, pro- cessos sempre vinculados ao contexto histórico-cultural em que se inserem. A contextualização política e ideológica e as disputas nas quais os autores analisados estavam diretamente envolvidos devem fazer parte primordial da análise. Evita-se, dessa forma, uma análise apriorística do caráter ou do sentido de que se revestiram determinadas ideias. 22 Ganham importância, portanto, perguntas como em quais disputas político-ideológicas os autores estudados estavam envolvidos e quais as múltiplas apropriações realizadas: não se trata de apontar “faltas” ou “falhas” nas distintas formas de recepção de ideias, mas de verificar diversas apropriações num processo transatlânti- co de circularidade cultural vinculado à conjuntura política. Diferenças nas formas de recepção relacionam-se, dessa forma, diretamente ao contexto e às disputas intelectuais dos autores em seus meios, bem como às subjeti- vidades envolvidas. 23 A perspectiva histórico-cultural exige um questiona- mento constante dos aspectos eurocêntricos envolvidos na análise, colocan- do em questão as ideias de “centro”, “periferia” e “atraso” no plano cultural. 24 21 Consultar NEDER, 2007, p. 144-147 e VENANCIO FILHO, 2011, p. 36-39. 22 Para uma visão crítica sobre este ponto, ver SCHWARZ, Roberto. “As idéias fora do lugar”. In: Idem. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social no início do romance brasileiro . São Paulo: Duas Cidades et. all. , 2000, p. 11-31. 23 Para a análise da dimensão da subjetividade na teoria política e na análise da ideologia, ver CERQUEIRA FILHO, Gisálio. A ‘Questão Social’ no Brasil: crítica do discurso político . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982 e idem. Análise social da ideologia . São Paulo: EPU, 1988. 24 Para uma visão crítica à ideia de “atraso” nas formações políticas latino-americanas, ver MORSE, Richard. O espelho de Próspero – cultura e idéias na América . São Paulo: Companhia das Letras, 1988 e NEDER, 2007, p. 35-38. Para uma crítica à “falta” de traços tipicamente europeus no sistema político-partidário brasileiro, ver ainda CERQUEIRA FILHO, Gisálio. “Em Busca do Oriente Perdido”. Sociologia e Política. Textos para Discussão . PUC-Rio. Departamento de Sociologia e Política, Ano 1, No. 1, Julho de 1988.
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