Revista Arte e Palavra - Volume 1

98 Em sobrevida, as ruas são (estranhamente?!) invadidas: mendigos, viciados, desvalidos, que como em curva geométrica do pior dos vírus se propagam, reproduzem, multiplicam. Se estabelecem. Se arraigam. Enraízam. E nos fazem questionar: de onde (e tantos?!) eles saíram? Ou será que por nós, em nós, foram feitos invisíveis, assim como a COVID, imperceptíveis, ainda que sempre – e tantos – tenham firmado presença, venais corruptíveis. E pode ser que assim – uns mortos vivos – alimentados por nosso empenho na cegueira, aguardavam. Agora é deles o rugido e a gargalhada. Da janela eu vejo comemoração e algazarra. Têm bebidas, colchões, travesseiros e almofada. Sofá-cama, tapetes e até um abajur de luz prateada. E reinam absolutos na recém conquista da liberdade amplificada. É pior: na quarentena eles se exibem.

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