Revista Arte e Palavra - Volume 1
70 Minha mãe não aceitou. Parecia horrorizada. Cadê o leitão? Esse ano não tem leitão, mãe. Como não tem leitão? Você conhece a superstição. Leitão fuça pra frente. É o que traz progresso. Sem leitão não tem progresso. Mãe, esqueça o leitão. Esse ano é ano do bacalhau. Nadaremos de braçadas. Ela se benzeu. Achei um exagero. O ano começou com a morte do general iraniano Qasem Soleimani em um ataque realizado pelos EUA no Iraque. O fato quase desencadeou uma guerra. Janeiro e fevereiro foram meses marcados por chuvas em volume recorde: enchentes, desabamentos e mortes no Sudeste brasileiro. Em março, o dólar dispara a níveis históricos. No mesmo mês, a OMS declarou pandemia por causa do novo coronavírus. Em junho, um terremoto de magnitude 7,5 atingiu o México e uma nuvem de gafanhotos cruzou a Argentina, devorando plantações, rumo ao Brasil. Agora, olhando em retrospectiva - daqui, da janela de casa, vez que o confinamento não teve ainda seu fim -, penso que talvez tenha sido a falta do leitão.
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