Revista Arte e Palavra - Volume 1

65 Helio Saboya Filho O Kraken e o Cronovisor Com mãe católica e pai ateu, fui um adolescente total flex em matéria de religião: mesmo descrente em Deus, fazia o sinal da cruz ao mergulhar no mar, ao entrar no campo da pelada de fim de semana e nas provas escolares. Ingrato, não retribuia a graça alcançada: a onda perfeita, o gol de placa, a boa nota. Nem um “Obrigado, Senhor”. Também não acreditava em mapa astral, mandala, mandinga, simpatia, seres extraterrestres e outras esquisitices, até que, em meados dos anos setenta, caiu em minhas mãos um exemplar de Planeta, edição tupiniquim da Planète, fundada em 1963 pelos franceses Louis Pauwels e Jacques Bergier, autores de “O Despertar dos Mágicos” (Le Matin des magiciens), sub- intitulado “Introdução ao Realismo Fantástico”, de 1960. 1 A primeira revista da Editora Três abordava temas como esoterismo, ufologia e parapsicologia. O hoje acadêmico Ignácio de Loyola Brandão foi redator-chefe. Além da triagem do material vindo da matriz francesa, ele selecionava colaboradores nacionais, como o então obscuro e hoje obscurantista Olavo de Carvalho. Apesar do conteúdo, a revista tinha que passar pelo Serviço de Censura Federal. Realismo fantástico levado ao paroxismo. Guardo ainda alguns fascículos, como o volume 29, de janeiro de 1975, no qual descobri que o monstro de Vinte Mil Léguas Submarinas não era fruto da fértil imaginação de Júlio Verne. 1 Wikipedia

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