Revista Arte e Palavra - Volume 1
62 Minha janela é enorme e me assombra. Ela se escancara para alem dela mesma. É uma meta-janela, uma grande angular metafísica. Em compasso com o Poema em Linha Reta, me faz lúcida. Ofusca o Sol, a Lua e as estrelas. E esfrega os meus olhos na realidade dos bichos. Agora, nesse mesmo momento, largados nas ruas, chutados e famintos. Membros cortados, olhos vazados, eviscerados. Berrando em agonia em laboratórios. Em matadouros, esfolados e sangrados vivos. Sim, toda essa multidão de sofrimento que não posso aplacar. Não os posso trazer para o meu lado para que vivam em plenitude. Corro e fecho essa voragem. E então, mas só então, fecho em close. Desfruto da paz com que meus bichos me alimentam. Cachorros e gatos deitados juntos em almofadas. Trinados dos passarinhos livres que moram nas minhas árvores. Desconhecem a dor. São meu bálsamo contra a impotência. Através deles sinto Deus. Amanhã, mas só amanhã, Em um Adiamento que também roubo do Pessoa, Abrirei a janela outra vez. Lúcia Frota Pestana de Aguiar A Grande Angular
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